Fátima Lopes
“A minha casa é o meu templo”

Famosos

Fátima Lopes revela que, apesar de gostar muito da sua carreira, é a família que lhe enche o coração

Qui, 17/10/2013 - 23:00

O quinto livro de Fátima Lopes fala sobre diferentes relações entre mães e filhas. Um livro histórico, que foi o mais difícil que já escreveu e que nos levou a conhecer o seu lado mais pessoal. A apresentadora fala dos filhos –Beatriz, de 13 anos, e Filipe, de quatro – e da maravilhosa relação que tem com a mãe, Amélia.

 VIP – Mães e Filhas com História é um livro histórico onde, com base em diferentes relações entre mães e filhas, dá vários exemplos de maternidade. O que procurava?Fátima Lopes – Procurava mostrar diferentes formas de viver a maternidade. Hoje há uma pressão muito forte para as mulheres serem extraordinárias, serem supermulheres. Temos de ser boas profissionais, boas mães, boas esposas. Como se isso fosse possível!

 Sente isso, no seu caso? Que tem de ser uma supermãe?Eu faço os possíveis por dar o máximo aos meus filhos. Mas, sim, também sofro essa pressão. Embora eu dê sempre 100 por cento, tenho a ligeira impressão de que podia ter dado 110.

Isso é uma coisa tipicamente feminina…
Se calhar, os homens não sentem isso, mas as mães sentem que, em relação aos filhos, têm de dar sempre 110 por cento. Mesmo que estejam em plena exaustão. A minha mãe dizia­ me: “Não dá, a mãe não pode” e estava arrumado. É uma questão cultural e de evolução das sociedades. Hoje, vivemos em busca da perfeição.

Parece­ me que os pais, à medida que vão perdendo tempo para os filhos, por causa da profissão, vão tentando compensá­ los de outra forma.
Comprá­ los. E eu não compro. Compensá­ los por não termos tanto tempo para eles, se calhar, sim. Mas repare: no tempo dos meus pais, eles também trabalhavam. A diferença é que as crianças ficavam sozinhas em casa e desenrascavam­ se muito bem. Eu, aos seis anos, ia sozinha para a escola, não sabia sequer ver o número do autocarro, perguntava às senhoras da paragem se era o número três, comprava o bilhete e ia sozinha. Ficava com a minha irmã sozinha em casa, não havia micro­ ondas, aquecíamos a comida no fogão e nunca aconteceu nenhuma desgraça. Hoje em dia, não é assim. Claro que hoje os perigos são outros. Mas também me parece que os nossos pais não exigiam tanto deles próprios. Escrever este livro apaziguou­ me. Faço o melhor que sei, com muito amor.

Dar amor é o mais importante.
Sim, os meus filhos são as pessoas mais importantes da minha vida. Nunca ninguém terá, da minha parte, o amor que tenho pelos meus filhos, que é incondicional e para a vida. Até eu morrer, eles serão sempre os meus filhos.

Com que mãe se identifica mais no livro?
Eu, tal como a minha mãe – porque acho que tenho uma forma de educar e de me comportar muito parecida com ela –, estou mais próxima da dona Filipa e da dona Isabel de Borgonha. A dona Filipa nasceu para ser mãe e foi uma boa mulher de Estado. Soube passar aos filhos os ensinamentos importantes para eles serem pessoas conscientes na construção do reino. Todos os seus filhos tiveram um papel relevante na nossa história. Eu identifico­ me com o papel educador da dona Filipa. Apesar de ser uma mulher de Estado, era junto da família que o coração dela palpitava a 100 por cento. Eu também sou assim. Gosto muito do meu trabalho e da minha profissão, mas do que eu gosto mais é da minha família.

Eu diria que isso é ter as prioridades certas.
Sim, eles estão à frente de tudo. No meu caso, a família é o que me dá força anímica e paz. Chegar a casa e olhar para a minha família faz­ me não precisar de mais nada. Ainda ontem chegava a casa do trabalho, cansada, e uma vizinha perguntava como é que eu estava. Eu disse que agora estava tudo bem. Estava a chegar a casa! Ela riu­ se, mas a verdade é que a minha casa é o meu templo.

Sempre ouvi dizer que o sorriso de um filho sara tudo.
E, no caso dos meus, eles são muito sorridentes os dois, graças a Deus.

Seguindo o estilo de mãe da sua mãe, como se define?
Eu não sou rígida, mas sou uma mãe que dita regras. Sou muito exigente com a educação. Gosto de crianças bem educadas. É muito fácil encontrar os meus filhos sentados ao meu colo e a brincarem comigo, mas sou uma mãe que diz “não”. Por exemplo, a Beatriz tem 13 anos, está quase na adolescência. Se eu não lhe dissesse “não”, ao primeiro obstáculo que ela encontrasse fora de casa, caía de joelhos. Depois, equilibro isso com afetos. Sou uma mãe de beijos, de abraços, de lhe saber ler os olhos. Eu sou capaz de chegar a casa e perceber que se passa alguma coisa com os meus filhos e perguntar­ lhes o que é.

A Beatriz fala abertamente consigo?
Sim, eu habituei­ a, desde pequena, a falar comigo. Às vezes, ela diz: “Bolas, mãe, às vezes parece que tens uma bola de cristal”, porque percebo sempre quando ela tem um problema. Quando assim é, arranjo maneira de ter tempo para falar sozinha com ela.

Assusta­ a o facto de ela estar a entrar na adolescência?
Não, eles hoje são pré­ adolescentes aos nove anos. Já estamos nisto há algum tempo. Sei que não é uma época fácil, eles estão à procura de se afirmar, de marcar território, fazer sentir o seu poder, procurar as suas referências. Estão com as hormonas aos saltos, mas faz parte.

Lembra­ se da sua adolescência?
Lembro. Não gostei nada de ser adolescente. Não é que fosse uma pessoa complicada, mas não gostei de andar à procura de quem sou. Depois, como sou muito emotiva, tudo era um drama. Chorava por tudo e por nada. Achava que ninguém gostava de mim, que era o patinho feio. Já contei isto à Beatriz várias vezes, não lhe minto.

 Ela é parecida consigo?
Em algumas coisas é. Este “despache” que eu tenho, ela também tem. É uma miúda muito comunicativa, muito sensível, com quem se pode ter conversas muito interessantes.

O Filipe e a Beatriz têm quase dez anos de diferença. Sente que, com o Filipe, é uma mãe diferente?
Não, mas senti que tive de mudar a abordagem consoante a personalidade de cada um. Não acho que seja uma mãe diferente. Em alguns casos, talvez seja uma mãe mais calma, por já ser o segundo o filho. Aprendi a relativizar uma série de coisas.

Mas ser mãe de um menino é muito diferente de ser mãe de uma menina?
Os meninos são mais afirmativos, gostam de afirmar o seu espaço cedo, são muito senhores das suas convicções. É diferente. O Filipe é mais determinado e não gosta de acatar com tanta facilidade.

 Eles são parecidos?
Fisicamente, não. Psicologicamente, também não são muito parecidos. São os dois superenérgicos, pró-ativos e dinâmicos. Às vezes, são os dois muito teimosos, mas quando me veem zangada, têm os dois o mesmo comportamento: reconquistam­ me, vêm pedir­ me mimo. No fundo, não gostam de causar sofrimento à mãe (risos).

 E dão­ se bem um com o outro?
Têm as turras próprias da idade. O normal. Eu tenho três anos de diferença da minha irmã e andávamos sempre à galheta. Era aflitivo como nós nos dávamos mal! Só começámos a dar­ nos bem a partir da minha adolescência. Às vezes, até diziam que não podíamos ser irmãs, porque andávamos sempre pegadas. Eles não são tanto assim, mas também se pegam.

Aos 44 anos, ter mais filhos está fora de questão?
Sim, não quero mais. Chega! Agradeço muito a Deus os filhos maravilhosos que tenho.

Dedica o livro à Beatriz e à sua mãe, Amélia. O que é que recorda melhor da sua mãe?
A doçura. Ela sempre foi uma boa educadora, com regras firmes, mas que dava colo e mimo. Ainda hoje, ela está lá, ainda antes de eu lhe pedir ajuda. A minha mãe procurou sempre acompanhar a evolução dos tempos e, às vezes, acho que ela é mais evoluída do que eu. Ela compreende tudo e, por isso, eu e a minha irmã sempre falámos de tudo com ela. E tinha tempo para nós.

E hoje, a Fátima consegue ter tempo para a sua mãe?
Temos uma relação muito próxima. Falamos todos os dias, vemo­ nos quase todos os dias porque, quando chego a casa, cruzo­ me com ela, porque ela fica com os netos. De vez em quando, arranjo forma de jantarmos, para podermos estar calmamente a conversar. Temos uma relação muito próxima, as duas.

 É a sua melhor amiga?
Sem dúvida alguma. Temos um grau de cumplicidade e de diálogo extraordinário. Ainda hoje lhe peço conselhos sobre a relação com os meus filhos. Ela é muito equilibrada, apesar de ser avó e de fazer coisas que, como mãe, nunca fez. O Filipe é mais determinado e não gosta de acatar com tanta facilidade.

 Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: Bruno Peres; produção: Manuel Medeiro; Cabelos e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel

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