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MARIA JOÃO COSTA descreve os últimos dias passados ao lado de ANTÓNIO FEIO

Famosos

“A doença serviu para ele ajudar os outros”
Não consegue precisar quantas horas passou à conversa com o actor para, em conjunto, escreverem o livro “Aproveitem a Vida” e lamenta que António Feio não esteja presente para ver o fruto do trabalho que realizaram juntos.

Ter, 14/09/2010 - 23:00

Não consegue precisar quantas horas passou à conversa com o actor para, em conjunto, escreverem o livro Aproveitem a Vida e lamenta que António Feio não esteja presente para ver o fruto do trabalho que realizaram juntos. Mas não é apenas Maria João Costa que o lamenta. Os portugueses também. E a forma que arranjaram para demonstrarem as saudades, foi esgotando a obra na primeira semana. Senhor do humor até ao último momento, confidenciou que gostava de ter uma banda no seu funeral.

Como surge este projecto?
Maria João Costa – Foi simples: enquanto editora fui ter com o António para lhe lançar este desafio. Fomos acompanhando nas revistas a evolução da doença, mas ao mesmo tempo a onda de solidariedade que se gerou em volta dele, muito pela forma honesta como falava da sua saúde e a compartilhava com o público. Para nós, não fazia sentido que fosse uma biografia: parecia-nos mais interessante que fosse um projecto de auto-ajuda, que apanhasse essa essência do António.

Quantas horas passaram juntos para fazer o livro?
Não sei dizer! Foram muitas, porque entre termos o microfone ligado ou não… tivemos até conversas prévias antes de começar a gravar.

Que imagem guarda dele?
Acho que não é muito diferente daquela que é partilhada pelo público. O António era um lutador, que se recusava a baixar os braços. Acho que essa é a imagem mais forte que fica dele. É interessante perceber que, com esta doença ele encontrou um certo espírito de missão. A doença – e a forma como lidava com ela – serviu para ajudar os outros a não desistirem, a seguirem em frente. Essa energia e confiança, essa vontade de fazer chegar a mensagem, era o que mais o marcava. A doença tinha de ser um catalisador para qualquer coisa maior.

Falaram da morte?
Várias vezes. Falámos de tudo, até de como ele gostaria que fosse o funeral… disse que gostava de ter uma banda (risos). Como fomos falando ao longo dos meses, fui acompanhando os estados de espírito dele.

Que se foram alterando…
Mais no último mês. Até aí sempre teve a ilusão, a esperança, não na cura, mas que poderia acontecer alguma coisa. Que descobrissem qualquer coisa nova… no fundo, o que ele tentou fazer foi ganhar tempo. À espera, talvez, que um milagre acontecesse. Ele não acreditava em Deus, mas se calhar… nunca me disse que esperava um milagre, mas talvez de alguma forma acreditasse que isso pudesse acontecer.

E aconteceu o inevitável.
Faz imensa impressão. Pode parecer estúpido, mas, sabendo que o António estava tão doente, podíamos ter pensado que isso pudesse vir a acontecer. Mas não nos passou pela cabeça. Ainda por cima estávamos a tão pouco tempo de lançar o livro. Só talvez nas últimas semanas, quando começou a ficar mais debilitado… é muito estranho ele não estar cá, porque ele pensava neste espectáculo, de alguma forma, como uma maneira de se despedir. Não conseguiu e eu lamento imenso.

Viu o livro pronto?
Não. Nada. Por isso é que o livro ficou tão agarrado às palavras dele. Claro que todos os filhos leram, até porque podia haver alguma imprecisão.

Como soube que tinha morrido?
Tinha marcado uma entrevista com o Dr. Nuno Gil, que o acompanhava no Hospital da Luz – já o António estava internado. No dia anterior tinha-me deitado tarde, não tinha sequer ligado a televisão e levantei-me muito cedo para ir à entrevista. Quando chego ao hospital, às oito da manhã, pergunto-lhe: “Então Dr., como está o António hoje?” Ele responde-me que tinha morrido. A nossa conversa acabou por ser completamente diferente do que ia ser, porque o médico também estava perturbado.

A apresentação do livro também é diferente.
O António não queria fazer uma apresentação normal, porque achava que era "uma seca". Imaginava tudo num palco… por ele teria encenado o velório também num palco. A apresentação também teria de ser um espectáculo de amigos, para amigos. Claro que ele queria que terminasse com ele a entrar, seria a tal despedida – ele dizia que iria de qualquer maneira. Não está, mas o espectáculo acontece na mesma, em forma de homenagem.

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Bruno Peres

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