Paula Paz Dias
“A justiça já é bastante feminina”

Famosos

Eleita Elegante VIP de 2012

Qui, 27/06/2013 - 23:00

Foi com grande surpresa que Paula Paz Dias, juíza de primeira instância no Porto, recebeu a distinção Elegantes VIP 2012, numa cerimónia que decorreu no Palácio da Cruz Vermelha, em Lisboa. A magistrada, casada com o empresário Mário Ferreira e mãe de duas meninas, Carlota e Catarina, de cinco e dois anos, fala da importância da família e da profissão na sua vida.

VIP – Disse que não contava ser a vencedora. Como foi receber a distinção?
Paula Paz Dias – Teve um sabor muito especial, pelo facto de não estar minimamente à espera.

Ficou emocionada com a vitória?
Lisonjeada e orgulhosa. Não é comum as pessoas da área do Direito serem nomeadas, mas é bom combater esse tipo de estereótipos. As pessoas do Direito também podem ser elegantes. Sempre tentei fazer aquilo que gostava e vestir-me da forma que gostava e penso que isso nunca me prejudicou na carreira.

Qual é o seu conceito de elegância?
É estar bem consigo próprio e estar feliz. Hoje em dia, acho que é mesmo isso. As pessoas têm acesso tão fácil a roupa e maquilhagem, que aquilo que faz falta é as pessoas sentirem-se bem com elas próprias e passar, talvez, umas horas no ginásio ou a correr ao ar livre. O exercício físico também ajuda. Estar bem física e espiritualmente.

O filósofo Paul Valéry define elegância como “a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir”. Concorda?
Sim. É muito difícil encontrar uma definição abrangente, porque é um conceito muito relativo e subjetivo. Identifico-me com a definição de Valéry.

Como definiria o seu estilo?
Profissionalmente, opto pelo fato, saia-casaco, porque é prático. No meu caso, é o ideal. Extratrabalho é o contrário – adoro vestir jeans e roupa sofisticada, gosto muito de me vestir para uma festa; dá-me imenso gozo.

Em termos profissionais, é juíza de primeira instância. O que a apaixona nessa profissão?
É a possibilidade de fazer alguma diferença na vida das pessoas. Já tive muitos momentos de realização na minha profissão. Hoje em dia, a Justiça é muito atacada e com bastante razão. É difícil responder às necessidades da vida contemporânea e a outras áreas, como a Saúde e a Educação, que admito que também tenham de ser privilegiadas, e a Justiça não tem conseguido dar uma resposta atempada. É normal que as pessoas se queixem. Eu tento fazer o meu melhor.

É juíza há quantos anos?
Fui juíza efetiva com 25 anos e fui para o Centro de Estudos Judiciários com 23.

É difícil separar as emoções do trabalho quando se está a tomar uma decisão?
Confesso que a maternidade criou-me alguma fragilidade (risos). Acho que era, talvez, um pouco mais fria antes de ter as minhas filhas. Tornei-me mais emotiva e é-me mais difícil controlar as emoções quando as situações são mais complicadas.

Esta é uma área mais ligada aos homens…
Foi. Atualmente, não. O meu pai é juiz, embora jubilado. Há alguns anos atrás, era muito complicado, mas, neste momento, a Justiça já é bastante feminina, quer em Portugal quer em França.

Nunca pensou ter outra profissão? Foi sempre a magistratura que quis seguir?
Quando terminei o curso, fui direta para o concurso do Centro de Estudos Judiciários. Neste momento, estou a tirar o doutoramento. Vejo-me sempre ligada ao Direito.

E quando disse ao seu pai que queria ser juíza, como é que ele reagiu?
O meu pai diz sempre que me aconselhou a não ser juíza. “Sempre te disse para não ires para isto, é muito trabalhoso.” Mas não é bem verdade, percebe? É aquela coisa que, por um lado, assusta e, por outro, dá mais vontade (risos).

Como gere a carreira com o lado familiar?
Neste momento, quer para mim quer para o Mário, a nossa prioridade são as crianças e o tempo que passamos com elas. Mesmo quando há picos de trabalho, tentamos contrabalançar. É sempre difícil gerir as duas coisas. É tentar manter o equilíbrio, porque, de facto, não se consegue ser feliz se só se tiver a família e não uma outra forma de realização. Temos é de ter cuidado, porque no trabalho é sempre tudo muito urgente e, se nos distraímos, acabamos por ficar com um espaço muito reduzido para as nossas filhas.

São duas meninas. Elas são tão femininas quanto a mãe?
Hiper! Abrem as minhas gavetas, desfilam com as minhas carteiras – gostam, sobretudo, das pequeninas, de toilette –, adoram os meus sapatos…

Dedica-se também a causas sociais, ajudando crianças e portadores de deficiência. O que mais a toca nessa sua entrega?
Ajudar os outros é sempre uma prioridade que eu acho que temos de ter, até porque a vida foi tão boa connosco que o mínimo que temos de fazer é ajudar. Estamos agora numa fase em que queremos começar a envolver as nossas filhas.

Por que razão dedica parte do seu tempo a ajudar crianças?
Porque são mais vulneráveis. Chegámos a construir uma escola para os miúdos de Mesão Frio, uma vila no Douro. O projeto não é meu, nem posso dizer isso, foi mais a empresa do meu marido, eu trabalhei sempre na sombra. Foi um projeto maior a nível empresarial, não foi nem o Mário e muito menos a Paula, mas foi a nível da empresa que se conseguiu, pedindo apoio a outras empresas, desde as tintas; arquitetos nossos amigos também ajudaram na escolha dos materiais… Isto já foi há uns anos, as minhas filhas ainda não eram nascidas. Foi um projeto muito grande.

E tem algum novo projeto?
Tenho. A minha ideia ainda não é viável porque a minha filha mais nova ainda só tem dois anos. Quero ir a Moçambique, com as minhas filhas e enteados, fazer voluntariado.

Texto: Helena Magna Costa; Foto: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia

Siga a Revista VIP no Instagram