Joana Clemente
JOANA CLEMENTE, responsável pela Helpo, faz surf nas horas vagas

Famosos

Com apenas 13 euros, é possível ajudar uma criança
Espírito de missão e uma vontade gigante de ajudar as crianças. Assim se resume o perfil de Joana Clemente que, desde os 21 anos, tem a seu cargo uma Organização Não Governamental (ONG). A par disso, e sempre
que pode, dedica-se a uma nova paixão, o surf

Qui, 16/07/2009 - 23:00

Espírito de missão e uma vontade gigante de ajudar as crianças. Assim se resume rapidamente o perfil de JOANA CLEMENTE que, desde os 21 anos, tem a seu cargo uma Organização Não Governamental (ONG). A par disso, e sempre que pode, dedica-se a uma nova paixão, o surf. Para a VIP apanhou umas ondas na praia da Cornélia, na Costa de Caparica.

VIP – Quando despertou para o surf?
Joana Clemente – Por a minha praia familiar ser a Adraga, onde é impossível surfar, nunca me tinha aventurado. Mas quando fui viver para Cascais uns amigos começaram a desafiar-me. Numa tarde de Inverno, em que não tinha nada para fazer, fui a Carcavelos e decidi experimentar. Falei com um professor que me prometeu duas coisas: que me iam doer músculos que não fazia ideia ter e que ia sair do mar com um sorriso de orelha a orelha. Também me avisou que era pior do que uma droga… e é verdade (risos). Embora seja uma paixão recente é intensa. Saio do mar completamente renovada e com outra energia.

É importante ter aulas ou é só pegar na prancha e começar?
Aconselho sempre umas explicações numa escola, sobre correntes, segurança, as regras entre surfistas… até existem regras de prioridade dentro de água! Nem sempre são respeitadas, contra mim falo (risos), mas levam um gritinho e recuam.

É coordenadora Executiva na ONG Helpo, como começou este trabalho?
Fiz o último ano de faculdade em Génova, Itália, e lá tive conhecimento de uma ONG que apadrinhava crianças à distância, em Angola e Moçambique, e que precisava de pessoas para ajudar a traduzir os projectos. Candidatei-me ao estágio, fiquei e ao fim de seis meses de trabalho perguntaramme se não estava interessada em fazer uma proposta para patrocinarem a abertura de um projecto semelhante em Portugal. Assim nasceu o CCS Portugal que, ao fim de dois anos e meio, se converteu na Helpo.

Isso foi há quanto tempo?
Em 2004. Comecei sozinha como voluntária. Fui para Moçambique, regressei a Portugal e ao fim de quatro meses, duas colegas de faculdade juntaram- -se a mim. Hoje, além de voluntários, temos equipas em Portugal, em duas províncias do Norte de Moçambique, Nampula e Cabo Delgado, e em São Tomé e Príncipe. A nossa ideia é continuar a crescer, desde que continuemos a conseguir apoios para isso.

Neste tempo de crise nota as pessoas menos solidárias ou, pelo contrário, sente-se o espírito “deixa-me ajudar, que amanhã posso ser eu a precisar”?
Por um lado, é mais difícil conseguir que as pessoas adiram ao programa de apadrinhamento, que se comprometam a apoiar uma criança, sobretudo fora de Portugal. Por outro, quem o faz é com mais consciência do impacto que vai ter na vida de uma criança.

E como é que se pode ajudar a Helpo?
Existem várias formas de o fazer. A principal é o apadrinhamento de crianças à distância. Temos neste momento 500 registos de crianças à espera de padrinhos. Estamos também a fazer uma campanha de recolha de livros, porque construímos, reabilitamos, mobilamos e equipamos bibliotecas, temos ainda umas t-shirts com o nosso lema que é Eu Helpo, E Tu?, temos umas pulseiras a 1 euro que estamos a vender para conseguir construir uma escola primária, em Nampula. Temos uma série de projectos que estão no nosso site [www.helpo.pt], sobre os quais podem fazer doações específicas, podem oferecer um apadrinhamento a um amigo e podem ainda comprar brindes de casamento ou baptizado… dão o brinde de recordação e ainda apoiam quem precisa.

É muito caro ajudar?
É importante que as pessoas percebam que desde apenas 13 euros por mês é possível ajudar uma criança. É um jantar, um cinema, umas pipocas… Já disse que temos 500 crianças para apadrinhar?!

Quando comete um excesso, pensa nisso?
Penso. É horrível! Por exemplo, agora fiz uma obras na cozinha de minha casa e quando estava a ver o preço das coisas dei por mim a pensar “isto é metade de um poço”. As obras da minha casa davam para fazer dois poços… é horrível, toda a gente ralha comigo.

Como se sentiu na primeira viagem que fez a África?
Sempre fui com a perspectiva de trabalho, portanto com um sentido muito prático para resolver os problemas… o que ali é completamente impossível, contraproducente e profundamente frustrante. É muito complicado.

A sua família aceitou bem esta sua forma de vida?
O primeiro impacto quando se diz: “Vou trabalhar para uma Organização Não Governamental para África, no meio do nada” não é fácil. Tinha 21 anos e acho que a minha mãe tinha, acima de tudo, medo que as coisas não resultassem, que fosse muita coisa só para mim, especialmente na fase em que estava a trazer o projecto para Portugal. Depois começou a ver mais pessoas a acreditar, já não era só eu…

Calculo que toda a sua família tenha apadrinhado uma criança.
(Risos) Quando comecei nisto, os meus amigos já não me podiam ouvir. Nos jantares de família, de amigos, toda a gente era obrigada a apadrinhar pelo menos uma criança.

A persistência tem que ser uma das suas qualidades.
Mais do que qualidade para mim isto é um “murro no estômago” e isso sempre me deu para a indignação, para a revolta e não para a tristeza. Enquanto tiver capacidade de me indignar, tenho energia para trabalhar e para convencer as pessoas.

O seu namorado entende esta sua escolha?
Custa sempre um bocadinho, mas compreende. Já sabe que vem com o pacote.

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel; Agradecimentos: Edge Sunset Spot, praia da Cornélia, Costa de Caparica; Para saber mais sobre a Helpo, aceda a ww.helpo.pt, dirija-se à Rua Manuel Joaquim Gama Machado; N.º 4, Cascais, ou ligue para 214 844 075

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