Paxi Canto Moniz
As histórias de uma mulher dos sete ofícios

Famosos

Fala dos homens da sua vida e da forma como educa dois filhos rapazes, muito diferentes

Sex, 02/01/2015 - 0:00

Esta é uma Paxi como nunca a viu. Conta de que forma apanha os momentos únicos das pessoas com a sua máquina fotográfica e como correram os quatros meses de campanha com o Governo brasileiro. Admite que a sua especialidade são as pessoas, tem dois filhos tão diferentes que “vão do 8 ao 80” e confessa que não sabe seduzir. É uma portista ferrenha e, por isso, Vítor Baía deu-lhe as luvas do jogo em que se sagrou Campeão do Mundo. 
 
VIP – “Tento, na minha fotografia, captar a emoção do momento e a verdadeira essência da pessoa. Não há nada mais bonito do que poder registar o seu momento único”. Esta frase é sua. Todas as pessoas têm um momento único?
Paxi Canto Moniz – Falta “não há ninguém que não seja fotogénico”. A fotografia tem essa parte maravilhosa. Muitas pessoas dizem-me que não são fotogénicas, mas a responsabilidade está no fotógrafo. Toda a gente tem um lado bom, um brilho nos olhos, um sorriso. É preciso saber apanhá-lo e ser observadora. E eu faço isso.
 
A Paxi também tem um momento único?
Todos os dias. Saber que posso criar momentos de felicidade aos outros é estar a criá-los também para mim.
 
Parece pouco egoísta.
Quando dou aos outros, não penso em receber.
 
Outra frase sua: “É na fotografia que me encontro tão livre enquanto presa no final de uma bela 
tarde de domingo.”
Sou uma pessoa muito livre. Muitas vezes, sinto-me presa nas regras desta sociedade. Só usamos parte do cérebro, precisamente porque ficamos presos a tudo o que nos é imposto. Com a minha criatividade, questiono por que é que as coisas têm de ser assim. E, por vezes, na fotografia, liberto-me e encontro-me, porque posso ver as coisas de outra forma.
 
Essa capacidade de ver para além da normalidade é um dom?
Não, é outra maneira de ver as coisas. 
 
E onde foi buscar isso?
Já passei por muito na vida.
 
Foi a vida que lhe deu essa capacidade?
Graças a Deus, passei por coisas tão difíceis que agradeço o que sou.  
Realizou dezenas de exposições individuais e coletivas, tanto em Portugal como no estrangeiro. 
 
Qual a que mais a marcou?
A de Itália, em fevereiro, porque não estava à espera. Quando me falaram, fiquei espantada, não acreditei e depois tive de fazer tudo à pressa. Tive outra muito íntima, que se chamava Sentimentos, e tinha a ver com mãos e água. Tudo o que seja sentimentos mexe comigo. Era toda a preto e branco, muito minimalista e só pessoas muito especiais é que percebiam a mensagem.
 
Falou-me de sentimentos e de uma visão diferente. Mas quando mexe com os sentimentos não se deixa influenciar?
Respeito todos os sentimentos, mas, em certos assuntos, e por causa do meu filho Sebastião, tornei-me mais dura. Conheço pessoas com depressões e problemas aparentemente menores, mas respeito essa dor, mesmo que não conheçam uma maior. Todos temos de respeitar a dor dos outros. Sentimento é uma palavra sagrada. Sou muito emotiva e a vida é muito curta. Temos de a viver bem. Uma pessoa sem sentimento é um objeto. 
 
A Paxi vive bem?
Lindamente. Sempre bem e faço por isso. Enquanto estou a criar e com saúde, estou bem.
 
Andou quatro meses a fazer campanha com o Governo brasileiro. Deve ter muitas histórias para contar.
Sim, sim. Fui esquecida no meio do nada. O Governador Siqueira foi-se embora de avião e deixou-me sozinha. Pensei que ia lá ficar o resto da vida. Não havia eletricidade, não tinha telemóvel, só havia índios. Lá consegui sair e, quando encarei o Governador, contei-lhe e ele respondeu: “Como boa portuguesa, lá encontrou o caminho de volta”. 
 
Gostava de fazer um trabalho semelhante em Portugal?
Adorava, porque, normalmente, é feito por homens e o olhar feminino é diferente. Depois, as fotografias que costumam fazer são muito carregadas e gosto de fazer a parte boa, positiva. Fazem muito os apertos de mão e esquecem os momentos mais engraçados. Gostava de os captar. Com o meu sentido de observação e a minha experiência de muitos anos como relações-públicas, adivinho o que a pessoa vai fazer. 
 
A fotografia na política continua a ser um mundo de homens?
No Brasil, eu era a única mulher. Mas vai mudar. O homem é muito prático, a mulher é mais observadora. Os dois olhares complementam-se.
 
Em termos de fotografia, foi a maior experiência da sua vida?
Já tive várias. Esta última com a Madalena (a filha de Bibá Pitta que tem Síndrome de Down) foi um desafio muito grande. Adorei. 
 
Vai fazer algo do género com o seu filho Sebastião [que sofre de uma deficiência]?
É mais difícil porque é rapaz. Mas a beleza interior é mais importante do que a exterior. E eu consigo captar bem essa beleza interior. Por isso, digo que não há ninguém que não seja fotogénico. 
 
Recuso-me tirar fotografias a estupores [risos].Não os consegue meter bonitos.
 
Não. É impressionante que, quando meto o olho na lente, vejo logo o interior. Tenho um dom. Na lente consigo ler o que está escrito na pessoa. 
 
Mas como é que isso é possível?
Não sei. É um talento. Basta olhar para as fotografias e ver quem tem brilho ou não.
Para além da fotografia, quais os projetos em que está envolvida?
Sou relações-públicas do Jézebel e do Restaurante Paladar da Guia. Trato da criatividade e das pessoas. A minha especialidade é as pessoas. O Paladar é das pessoas e queremos que vivam aqui um pouco do meu mundo e da minha maneira de ser: a arte e o fazer sorrir. Há um fenómeno engraçado: todas as pessoas que tiram aqui uma fotografia, passam a usá-la no respetivo perfil nas redes sociais.
 
Esse é um bom barómetro.
Se não for assim, digam que é mentira [risos].
 
Decorou o Paladar da Guia com fotografias suas, mas também com fitas nas cadeiras. 
Já estava decorado pela magnífica vista, mas, onde quer que esteja, tenho de criar. Como pinto, podia trazer as minhas telas, mas não dava muito jeito receber as pessoas com um pincel. Queria que o espaço ficasse diferente e, na brincadeira, comecei a marcar as cadeiras com laços. Esta é a minha cadeira, a outra é daquela pessoa e por aí fora.
 
E como é a sua cadeira?
A mais louca, não tem nexo e só eu percebo. 
 
Por que razão não tem nexo?
A ideia é imitar a minha cabeça. As minhas ideias nunca acabam [risos]. 
 
Nunca se dá por satisfeita.
Nunca. Caso contrário, morria.
 
Como é a relação com os seus filhos, Sebastião, de 15 anos, e Salvador, de 21?
Com o Salvador é uma relação muito, muito próxima. É o mais velho e vivi sozinha com ele em Barcelona e em Saragoça. Depois, divorciei-me e ele continuou comigo. Protege-me mais ele a mim do que eu a ele. É um filho incrível. Tenho dois filhos muito especiais, mas tão diferentes que é quase como quem vai do 8 ao 80. O Salvador vai formar-se em Gestão, pela Universidade Católica. 
O Sebastião é o equilíbrio que Deus me deu porque o trabalho que um não me dá, tenho-o com o outro a dobrar. 
 
Como é a relação do Sebastião com o pai [Filipe Gaidão]?
Muito boa e ele agora está numa idade em que precisa muito de uma figura masculina. 
Sentiu que, sozinha, não conseguia acompanhar o crescimento do Sebastião?
Consigo tudo, mas não faço milagres. O meu filho precisa de ser tratado. 
 
Sebastião é o companheiro para a vida?
É. Nunca estou sozinha. É uma paixão. De repente, cresceu, desafia-me como todos os outros, só que ele não é como todos os outros. E tem sido difícil lidar com isso. Tem mais caráter do que eu e eu já sou o que as pessoas sabem. Ele saiu a mim, a dobrar. Há que haver um trabalho muito grande de todos os lados, e o que eu mais gostava era que a família se entendesse, para o bem dele. 
 
É o maior desafio da sua vida?
Não. O maior desafio é a minha própria vida. E esta maneira de estar, sempre bem comigo própria, apesar de todos os obstáculos. Saber distinguir o que é bom e mau para mim, as pessoas que interessam, saber o que quero e o que não quero. 
 
 Entre dois filhos e quatro irmãos rapazes, a sua vida são só homens. 
Crescer com homens ensinou-me a defender -me deles. A mim não me dão a volta [risos].
 
 Qual o homem que mais a marcou?
O meu avô. Não tenho mágoa, nem raiva, nem amargura. Olhe para a minha cara e veja. Acha que tenho alguma amargura?
 
Leia a entrevista completa na edição número 911 da VIP. 
 
Texto: Humberto Simões; Fotos: Bruno Peres; Produção: Nucha; Cabelo e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel

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