Miguel Stanley
Grande entrevista com o dentista de Hollywood

Famosos

“Cheguei a ter duas mil pessoas em lista de espera”

Ter, 21/10/2014 - 23:00

Frontal. Direto. Sem papas na língua. E, muito menos, com falsas modéstias. É assim Miguel Stanley. Diz-se artista, cientista, bem casado, resolvido, feliz. Fez mais de 80 anúncios de televisão, abandonou a moda porque não ficava bem a um dentista andar de cuecas e teve três programas de televisão de grande sucesso – um deles nos Estados Unidos. Casou aos 40 anos com Sasha, a mulher da sua vida e, um ano depois, admite que ela é mesmo de outra estratosfera. Com uma vida recheado de (muitos) altos e (poucos) baixos, diz que não se arrepende de nada. 
 
 
VIP – Em 2010, publicou um livro intitulado “Saúde, no Caminho para a Felicidade” no qual aborda a importância da saúde e bem-estar. Se plantou uma árvore não me interessa, portanto, para quando o filho?
Miguel Stanley – [risos] Está no segredo dos deuses. Acreditamos que estas coisas devem acontecer naturalmente e agora é quando for. 
 
Mas já estão a trabalhar nisso?
Claro que sim.
 
Está a caminho?
Não.
 
Têm nomes?
Não, ainda é prematuro.
 
Como conheceu a sua mulher, Sasha?
Em Nova Iorque. No quinto piso de uma loja de roupas. Tinha acabado de regressar de Los Angeles e tinha uma palestra esse fim de semana, numa universidade. Tinha lá uma amiga, minha paciente há seis anos, que é manequim. Como sempre nos demos bem e tinha visto no Facebook que ela estava lá, contactei-a e combinámos um café para o dia seguinte. E conheci a Sasha. Fomos jantar fora e quatro semanas depois estávamos a namorar. 
 
Foi amor à primeira vista?
Sasha Beznosyuk [interrompe em inglês] – Nunca consigo definir amor à primeira vista. 
Miguel Stanley – Soubemos desde o início que era sério.
 
É a mulher da sua vida?
Claro que sim. Casei aos 40. 
 
Chegou a dizer que quando desistiu do amor, apareceu a Sasha. 
Tenho 41 anos e obviamente nesta idade já tive alguns desgostos de amor. A vida é uma aprendizagem e com a Sasha encontrei tudo aquilo de que estava à espera e estou tão feliz por ter esperado, mas tão feliz. 
 
Pensei que os ricos, bonitos e bem-sucedidos não sofriam por amor.
Toda a gente fica desgostosa por não bater certo. Mas avança para outra. Felizmente, nunca tive um desgosto de andar a sofrer. 
 
Mas quando apareceu a Sasha já tinha desacreditado. O que aconteceu de diferente?
MS – Costumo dizer: olhem para ela. A Sasha é uma mulher tremendamente completa. Quero acreditar que.. 
SB – … tínhamos o destino traçado.  
MS – Não é uma decisão minha, é nossa. Ela tinha de estar no mesmo estado de espírito do que eu para acontecer e desta forma. 
 
A Sasha está habituada à vida em Portugal?
SB – Sim! Devagar, mas gosto de viver cá. 
MS – A Sasha viveu quase 14 anos em Paris. Apesar de viajar muito como modelo, esteve muito tempo em França e até tem nacionalidade francesa, embora tenha nascido em Kiev (Rússia). Demorou a encaixar muitas coisas mas hoje é a casa dela.
 
E quando teremos a Sasha a falar português?
SB [em português com um ligeiro sotaque] – Eu compreendo português mas não falo “muita”, muito, bem. 
MS [ri-se] – Ela tem um dom. Quando estamos cá, ela vai sempre à feira de Cascais comprar legumes e peixe. Fala com toda a gente e toda a gente a entende.
 
É filho de pai português e mãe inglesa. A família já tem tradição de escolher outra nacionalidade para casar.
O meu pai era de Grândola e a minha mãe de Manchester. Ela ruiva, olhos verdes, sardas. Inglesa, inglesa, inglesa. Conheceram-se em Durban, na África do Sul. O meu pai estava na Marinha, conheceu-a primeiro, mas, como andava a trabalhar, só quando acabou é que a foi lá buscar. 
 
Como foi a sua infância?
Eu e os meus irmãos nascemos em Durban e aos meus nove anos viemos de barco para Lisboa.
 
Foi modelo na agência Elite. Como eram esses tempos?
O meu primeiro anúncio de televisão foi com 15 anos, nos anos 80, para a Compal – o lançamento da primeira lata. Acompanhei uma amiga no casting, apanhámos o comboio de Cascais para a L'Agence, em Lisboa. E foi quando estávamos lá que me convidaram. Nem precisei de fazer casting. Deram-me logo o trabalho. Fiz 83 anúncios de televisão.
 
Esse diretor é que tinha um dom. 
Viu logo que tinha jeito e depois continuei a fazer trabalhos. Ajudou-me a pagar a faculdade. Era uma boa altura para ser manequim. Ganhei muito e aprendi muito.
 
Então optou pela medicina porque foi ganhar ainda muito mais?
Não é verdade. Sou um bocado idealista e sempre quis ser médico. Em 1998, quando me formei, estava a ganhar bastante bem como manequim. E não tinha trabalho como dentista, apesar de ser um dos melhores alunos do meu ano. O primeiro emprego que tive foi em Almancil e nem havia auto-estrada. Tive de abdicar. Aliás, também não ficava bem a um dentista andar de cuecas em cima dos palcos. Naquela altura senti que as pessoas não iriam perceber que podia ser as duas coisas. Então, cortei radicalmente. Rapei o cabelo – tinha-o comprido – no dia em recebi o diploma e disse: “já não venho trabalhar mais”. 
 
Foi o último trabalho?
Nunca mais fiz anúncios, mas, há quatro anos, convidaram-me para um anúncio de um banco. Fiz ainda uma campanha para a TAP com a Sandra Cóias. O Diogo Morgado era a primeira opção, mas foi chamado para um filme e eu ocupei o lugar. Isto nos anos 90. O que aprendi como manequim ajudou-me depois nos programas de televisão.
 
Estava destinado a ser médico de clínica geral quando um atraso na entrega da sua candidatura fê-lo entrar em Medicina Dentária. 
Essa história é mais ou menos assim. Sempre quis ser médico e estava a tentar entrar para Londres e, na altura, estava num tour em Paris e éramos mais desorganizados: não havia telefones e computadores. Perdi de facto o prazo de entrega e depois entrei em Medicina Dentária.
 
É um dentista frustrado? 
Não, não. Tenho paixão por muitas coisas e o meu currículo prova que sou um aventureiro em muitas coisas. Não tenho medo. Tenho uma paixão por comunicação, por pessoas e por mudar as coisas. A medicina dentária enquadra-se nisso. Consigo de uma forma muito rápida mudar a vida de uma pessoa.
 
Formou-se em julho de 1998 e recebeu o diploma em setembro. Quando começou a exercer?
Tinha um amigo com uma clínica na Guerra Junqueiro e já trabalhava com algumas das minhas amigas manequins, algumas grandes estrelas nacionais hoje em dia. Éramos todos putos.
 
Em 1999, o seu irmão mais velho, Manuel, emprestou-lhe o dinheiro necessário para avançar com o seu sonho. 
Em 1998 fui para Almancil trabalhar numa clínica dentária, onde aprendi muito, e nesses dois anos tirei também uma pós-graduação em Madrid em implantologia e estética dentária. Sempre que vinha em Lisboa ia pedir emprego a uma clínica na Lapa, ao único dentista de renome: Eurico de Freitas Magalhães. Todos os meses ia ter com ele, com uma garrafa de vinho e dizia-lhe: “senhor professor, deixe-me trabalhar consigo, trabalho de borla, lavo o chão, o que for preciso”. Ele disse-me sempre que não. No final do verão de 1999, ligou-me para saber se eu queria comprar o trespasse. Foi aí que o meu irmão me emprestou dinheiro para comprar a Clínica Dentária da Lapa. Tinha 27 anos.
 
Frequentou uma Pós-graduação em Implantologia no Centro Branemark CEOSA em Madrid, entre 2000/2001, e um curso de Estética Dentária no CEOSA, também em Madrid, durante o ano de 2002. O que tem Madrid de especial?
Honestamente, proximidade. Estas coisas custam muito dinheiro, mas havia um professor – Mariano Sanz – com quem queria mesmo estudar. A medicina dentária já tinha algum destaque. Ou seja, era bom e também era perto. E tinha amigos em cujas casas ficava e era mais barato. A linguagem também não era muito difícil.
 
Em 2005, fez outro curso, em Chicago. Precisou de outros conhecimentos?
Aí já tinha mais dinheiro. [Faz uma pausa] Tudo o que fiz em termos de avanços científicos na minha carreira foi do meu profundo medo do fracasso. Nunca fui obcecado pelo sucesso, sou profundamente preocupado com o fracasso. E atenção, não tenho medo de fracassar, embora tente evitá-lo ao máximo. Como médico dentista jovem, desconhecido, pensei: “preciso de fortalecer-me, preciso de mais armas”. Assim, fui estudar uma área muito importante, a estética funcional, oclusão, área que já estava a desenvolver casos complexos e era muito importante ter sucesso com os meus casos únicos.
 
No ano a seguir, em 2006, estava no “Doutor, Preciso de Ajuda”, na TVI, que criou e produziu. Como surgiu a ideia? Partiu de si?
Sim, senhor! A partir de 2005, a clínica da Lapa estava a trabalhar bem, tinha sucesso, eram os tempos dourados de Portugal, havia dinheiro e a clínica era muito bonita, com um jardim zen. E caiu bem, era diferente. Desde 2002 juntei o conceito do luxo com a medicina dentária. 
 
E quando teve o click para fazer essa diferença?
Sempre. Desde o início percebi que tudo era importante. Não era só o diploma, era a maneira de falar, de nos apresentarmos, a qualidade do papel higiénico, do café, tudo iria definir o serviço que estava a prestar.
 
Isso veio dos tempos de modelo, a imagem?
Vejo muitos dentistas com currículos incríveis, médicos inacreditáveis, que andam de Rolls Royce, Porsche, têm barcos, e depois a clínica não é retocada deste os anos 70. O paciente tem de sentir que o médico tem de estar sempre a evoluir. Fui o primeiro em Portugal a preocupar-me com a funcionalidade do espaço, o pormenor. A insegurança ia refletir-se em mim. Muitas vezes, as pessoas não reconhecem a qualidade médica, mas reconhecem o bom gosto. Se tem bom gosto, terá também nos implantes. Em relação ao programa, estava em Las Vegas, em 2005, era o único português presente, e conheci Bill Dorfman, do “Extreme Makeover”. Achei inacreditável e pensei: “tenho de fazer isto”. Fui a Nova Iorque conhecer a equipa, percebi o modelo de negócio e quando voltei a Portugal comecei a trabalhar no conceito. Na altura, ia muito à SIC para falar desta área, uma vez fui ao programa da Fátima Lopes, fiz a mudança da boca de uma pessoa e os ratings foram incríveis. A resposta foi incrível e validou a ideia de que isto era bom.
 
A sua boa imagem também foi importante?
Não vou negar, bem como a experiência de mais de 80 anúncios em televisão. Estava à vontade em frente à câmara. O Dr. White era uma pessoa com muita experiência em frente à câmara. O José Eduardo Moniz ouviu falar do projeto, mandou-me chamar e perguntou o que precisava. Respondi: “poder absoluto sobre os conteúdos”. E gravámos três séries de “Doutor, Preciso de Ajuda”. Foi um enorme sucesso e mudou inequivocamente a imagem em Portugal.
 
Por que acabaram com o programa? Esgotou o conceito?
Cansei-me. Foi uma decisão minha e do José Eduardo Moniz, que também estava de saída. Eu não conseguia gerir mais o trabalho. E aquilo cansa. Tivemos muito trabalho por causa do sucesso do programa e eu não estava minimamente preparado, não tinha estrutura. Cheguei a ter duas mil pessoas em lista de espera, a não ver primeiras consultas durante oito meses e a fazer uma coisa engraçada que ninguém sabe: as pessoas ligavam, perguntávamos de onde estavam a ligar e tínhamos um mapa de Portugal, com todos os dentistas que me andavam a criticar, amigos e não amigos, e dizíamos para ir ter com este ou aquele. Mas bons dentistas. E nem uma garrafa de vinho recebi [risos]. 
 
Depois volta à SIC em 2012.
Andava com a TVI outra vez a ver se mudávamos um pouco o conceito, mas sabia que o conceito não estava esgotado, até pelas cartas que recebíamos e ainda recebemos. As cartas provam que não se esgotam. E eu tenho o bichinho, não é? Entretanto, a Gabriela Sobral e a Júlia Pinheiro foram para a SIC, ofereceram mundos e fundos e lá fui eu. 
 
Mais uma série de sucesso.
Simultaneamente, pediram-me para montar, em duas semanas, o programa dos doutores. Fizemos 100 programas. Em direto.
 
Quem escolheu o nome “Dr. White”?
Eu. A minha clínica chamava-se White. “Dr. White” era o nome de código do projeto e pegou.
 
Também participou na série da CBS “The Doctors”, nos Estados Unidos.
É a maior produtora do planeta. Em 2012, sou convidado para fazer uma participação em Hollywood. Aquilo é uma loucura. A medicina dentária não estava desenvolvida neste programa. A minha primeira língua é o inglês, daí o sotaque, que, ao contrário do que muitos dizem, não é trabalhado – não percebo a vantagem de ter sotaque, mas pronto – e fizeram um teste. Mais uma vez, os ratings foram incríveis. Mais uma vez, anos e anos em frente à câmara a comunicar saúde. Temos, desde 2001, uma página no portal da Sapo, onde andamos continuadamente há 13 anos a comunicar saúde com o público português. Um médico quando vai à televisão não pode falar à médico, tem de falar à público. Nós temos experiência e acabámos por gravar 15 programas, ao longo de oito meses.
 
Outro sucesso.
Um espetáculo. Pouca gente em Portugal soube disso. Durante esse processo ainda tentámos fazer o “Dr. White” nos EUA, e chegámos mesmo, mesmo ao final, mas entretanto o meu pai adoeceu e voltei a Portugal. Família em primeiro lugar. 
 
Como foi tratar dos sorrisos de Paulo Portas ou Ronaldo?
Isso é um ato médico entre médico e paciente. Tive enorme privilégio quando o Cristiano Ronaldo comentou isso, mas já o tratávamos há muitos anos sem ninguém saber. A ética e a privacidade dos meus pacientes é algo sacrossanto. 
 
Ouvi dizer que quer fazer de Portugal um destino de turismo dentário. É mais uma ideia sua?
Tenho o privilégio de dar muitas palestras internacionais. Dou, em média, oito a 15 palestras por ano. Só falta China e Austrália. O que faço nestes sítios? Aprendo. Está lá a nata da nata. Não é só o Miguel Stanley que aprende. Trago muita informação. É a Fórmula 1 da medicina dentária.
Mas a ideia do turismo dentário ainda não está formalizada, embora esteja numa fase bastante avançada. A ideia é trazer 20 por cento de um bilião de euros por ano. A Europa dos 27 tem isto e Portugal nem recebe um por cento. Quero utilizar a minha experiência internacional e o facto de ser o dentista de Hollywood e das celebridades para dizer que há boa medicina em Portugal, há bons dentistas, venham cá e aproveitem o sol. E quem sabe será uma boa fonte de rendimento para os cofres do Estado.
 
Quais as nacionalidades que atende mais?
Grande parte vem de Angola. Depois, Suíça, França, Rússia, Qatar e Arábia Saudita, por esta ordem. 
 
Por que é que estas pessoas o escolhem?
Boca a boca. Literalmente. [risos]
 
Não há divulgação nesses países?
Não. É boca a boca. Só trabalho numa clínica pequenina. Não existe outra no mundo. Ao contrário de outros, nunca fiz um franchising. A qualidade não é franchisada neste negócio. O investimento que fiz foi em detrimento do crescimento. Coco Chanel dizia que se demora dez anos a ter sucesso de um dia para o outro. Este sucesso são 20 anos a trabalhar todos os dias nisto. E temos a sorte de trabalhar com alguns pacientes certos e a palavra foi passando.
 
Teve uma ascensão meteórica, mas depois também teve uma grande queda, quando o seu projeto de uma megaclínica em Santos, Lisboa – que juntava aos tratamentos dentários uma componente estética completa e um spa de cinco estrelas – foi por água abaixo. 
Não foi bem assim. Esse projeto foi projetado em 2008 para a crise, numa zona comercial que era o Santos Design District, e todo o planeamento da cidade de Lisboa deveria ser um centro incrível, com projetos incríveis. Tudo parecia levar a acreditar que ia acontecer. Infelizmente, fui alvo de um roubo, uma burla, por parte de um contabilista, que colocou em grande dificuldade o projeto todo, o que, acoplado a uma crise económica, não foi fácil. Mas felizmente a White Clinic nunca ficou afetada. Não foi pelo conceito mas pela conjuntura. 
 
Está em tribunal?
Felizmente, deve terminar até final do ano. Infelizmente, nunca deverei ver um euro.
 
Mas vai….
[interrompe] Não vivo com acidez dentro do organismo. O passado é o passado. Agora só vivo para o futuro.
 
Chegou a faturar 4,5 milhões de euros por ano – em alguns meses fazia meio milhão. Nesta fase, é difícil voltar a esses números?
Esqueçam. Hoje em dia, se tivermos um break-even, fico feliz. O conceito de ter lucros formidáveis, já é complicado. Melhor material, clínica licenciada, toda gente a contrato, impostos pagos, tudo isto é caro. A máquina é cara. E não podemos ter preços de Hollywood para trabalhar em Portugal. As margens de lucro são reduzidas. 
 
Alguém ficou a rir-se com esta situação. Alguém teve de ficar com o dinheiro.
O meu contabilista. Com uma confissão assinada. Por isso é que eu acho que vai correr bem. Foi uma fase muito, muito difícil da minha vida, e orgulho-me muito de ter conseguido ultrapassá-la e manter toda a equipa e fornecedores comigo. Nunca afetou a produtividade da clínica porque a qualidade do nosso trabalho destacou-se sempre.
 
Por que é que as pessoas devem escolher o Miguel Stanley?
Deixe-me corrigir. Por que é que as pessoas devem ir à White Clinic? Se querem soluções de excelência, onde não poupamos em materiais e tecnologias para alcançar resultados rápidos e previsíveis. E são 16 anos a fazer isto. O meu currículo fala por mim.
 
A clínica é cara?
[Pausa] Em 30 por cento dos tratamentos somos do preço de uma boa clínica nacional. Somos mais caros em coisas mais complexas. Tenho um laboratório que só trabalha connosco. Quem vem, fica. Mas não trata só de uma coisa. E os resultados falam por si.
 
Primeira cirurgia em Portugal.
Fizemos com uma empresa que é a Megajan, sistema revolucionário que consegue sobrepor a TAC com a fotografia, juntamente com um software ultraespecífico, e cria uma guia cirúrgica e a colocação de implantes por computador. A tecnologia já existe há 6 ou 7 anos, mas esta forma de  fazer é revolucionária. Tudo feito por computador, numa só cirurgia, num só momento. 
 
E como é que isso vem parar à White?
Por causa das minhas palestras internacionais. Fui dar uma palestra em Zurique em junho, era o único português. A pessoa que falou depois de mim, debruçou-se sobre esta tecnologia. Fomos beber um café a seguir e dissemos: “vamos fazer”. É preciso viajar para estarmos à frente. E eu sou pago para dar estas palestras. Não é uma despesa para mim. 
 
"Muitas das minhas decisões são feitas ao acaso. Feeling [sensação]! Deus. Não sei.” Já sabe melhor do que se trata?
Desde que o meu pai morreu, no Natal de 2013, desde que conheci a Sasha, nunca estive tão feliz na minha vida. Tive uma educação moral muito forte, fiz catequese, andei nos Salesianos. Fui educado à antiga. Levava porrada e a bússola moral está no sítio certo. Se formos bem treinados – e eu fui bem treinado –, podemos seguir os nossos instintos porque as bases estão lá. Fiz muita porcaria, cometi muitos erros. Mas, felizmente, nunca foram graves, a nível humano. Hoje em dia penso mais, tenho a minha parceira que me ajuda e partilho tudo com ela. Ela tem uma outra cultura e outra maneira de pensar que me tornou mais forte.
 
Foi um bom complemento?
Sem dúvida. Nunca fui tão forte, tão calmo e tão feliz. 
 
Tem tido sucesso no estrangeiro, mas optou por Portugal. Porquê viver em Portugal se podia ter sucesso no estrangeiro?
SB – Porque não?
MS – Primeiro, é cá que tenho o privilégio de trabalhar com a equipa com que trabalho todos os dias. Tenho pessoas que trabalham comigo há 14 anos. Trabalhamos telepaticamente. No outro dia recebi um elogio de uma pessoa importante (um português) que disse: “parece que estou a sair de Portugal”. Quer queiram, quer não, sou artista, sou cientista e tenho a possibilidade de estar com uma equipa que é incrível. E depois, Portugal é o melhor país para viver. 
 
“Afinal, entra-se mais depressa em Harvard com uma bancarrota no currículo.” Explique lá isso?
Por causa da situação do roubo a que fui sujeito, a empresa de que que dono entrou em insolvência em 2001, e repare, eu não sou homem de negócios, sou médico dentista. Aliás, sou um péssimo homem de negócios, mas sou criativo. E perdi muita coisa. É só isso. A primeira vez que uma pessoa tem sucesso pode ser sorte, cunhas, posicionamento. À segunda, já é porque alguma coisa está bem estruturada.
 
Chegou a ser um dos homens mais desejados do País. Como é que a Sasha gere o sucesso, o dinheiro?
Quem está por fora faz essa pergunta, quem está por dentro não a faz. 
 
E como é trabalhar com muitas mulheres? Complica?
Sempre trabalhei com muitas mulheres e todas lindas de morrer. E são mais inteligentes do que bonitas. E são muito bonitas. Mas a Sasha é de outra estratosfera. A inteligência emocional e confiança é muito importante no meu trabalho. Uma mulher ou um homem bem parecido mas inteligente geralmente tem uma capacidade emocional melhor para lidar com o stress. Não tem vergonha, não tem medos, não tem fobias. É feio dizer isto, mas a minha indústria é estética e ponto. 
 
 
É um patrão duro?
Sou. Tenho fama disso, não tenho? 
 
Tem.
Se uma pessoa quer estar na primeira liga tem de ser exigente. Quero 100 por cento todos os dias, dos colaboradores, fornecedores. O meu paciente tem de receber 1000. 
 
E como é que as pessoas reagem a essa dureza?
Primeiro, estou muito mais calmo depois da morte do meu pai. Antes de partir deixou-me algumas mensagens muito fortes, em inglês, porque era a língua que falávamos. Uma delas: “Vai devagar”.  Outra: “Be cool”. Como ele era a pessoa que eu mais amava na vida, tenho de dar atenção a isso. Foram palavras importantes. Por outro lado, o facto de estar casado, bem casado, feliz, resolvido, ter batido com a cabeça, aprendido muita coisa, estar a ser analisado quase há uma década pela sociedade… Hoje em dia, sou uma pessoa completamente diferente. Mas olho para trás e não me arrependo de nada. Fiz tudo na altura certa, da maneira certa e hoje sou uma pessoa mais calma e forte por causa destes erros. Se sou duro com as pessoas? Nunca fui duro por algo injusto. Nunca. E desafio qualquer pessoa a dizer o contrário. Muitas vezes pequei pela forma, mas o conteúdo estava sempre certo.
 
"A vida é um ciclo muito engraçado, mas é preciso trabalhar, ter honra e muito amor.” Sente-se preenchido?
Sim, sim. 
 
Tem um sorriso fácil?
MS – Sim.
SB – Muito fácil.
 
E como está a boca dos portugueses? 
[Pausa longa] Defina portugueses.
 
Pergunto de outra forma: os portugueses já não têm tanto “bocas de avozinha”?
Há muitos bons médicos dentistas em Portugal, a trabalhar com ética e qualidade há muitos anos. 
 
No mundo, quem é que trabalha melhor do que nós, portugueses, nesta área?
Não é uma questão de trabalhar melhor. Há boa medicina dentária em Itália, Colômbia, Venezuela, Turquia, Espanha, Estados Unidos, África do Sul. 
 
Já há muitos sorrisos de Hollywood em Portugal?
Há, há. Felizmente. Mas mudei a minha filosofia. Já não faço sorrisos de Hollywood. De há dois ou três anos para cá as pessoas procuram tendencialmente coisas mais invisíveis e eu criei o conceito de medicina dentária invisível. Fazer uma mudança radical à boca mas o resultado invisível ao olho humano. É uma arte que estamos a conseguir levar a cabo. 

Texto: Humberto Simões; Fotos: Luís Baltazar

 

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