Jorge Pina
“Gostava de ver a minha mulher”

Famosos

Jorge Pina, concorrente de Splash!, já era cego quando conheceu a sua companheira

Qui, 06/06/2013 - 23:00

Aos 28 anos, e quando se preparava para disputar o título de campeão do Mundo de boxe, Jorge Pina viveu um dos piores momentos da sua vida: perdeu a visão. “Foi duro aceitar, porque sempre sonhei ser campeão do Mundo, queria ser como o Muhamm ad Ali [antigo campeão de boxe] e fiquei pelo caminho”, conta o atleta paraolímpico, que podemos ver atualmente em 'Splash!', da SIC.

A energia, o sorriso cativante e a força de viver do concorrente tocaram nos corações dos portugueses, que se deixaram emocionar com a sua história, mas acima de tudo com o facto de Jorge Pina não baixar os braços aos obstáculos e aceitar o desafio de mergulhar de vários metros de altura para uma piscina.

“Não hesitei em aceitar o convite. Sou um aventureiro, gosto de desafios, de sentir a adrenalina e superar-me a mim mesmo. É isso que me faz viver.” Mas não só! O desporto também, mas sobretudo o amor das três filhas, Carolina, de seis anos, Bruna, de 14, e Núria, de 18 (todas de mães diferentes), e da sua atual mulher, Raquel Pedro, médica de clínica geral e familiar, que são um importante pilar na sua vida.

Há nove anos que Jorge vive com a condição de ser cego e quando questionado pela VIP do que tinha mais saudades de ver, o maratonista não teve dúvidas na resposta. “Gostava de ver a minha mulher. Nunca a vi. Quando a conheci, já estava cego. Conhecemo-nos a correr no Estádio Universitário. Ela corre e treina comigo, ela é que me guia. Acho que ela é uma pessoa com um bom coração. Apaixonou-se por um cego, por um rapaz de cor, ela é branca, e eu apareci na vida dela para lhe dar cor”, diz, elogiando a sua companheira.

“Ela tem uma boa essência, não tem maldade, vem de uma família muito humilde, da terra, e é pura. É muito raro encontrarmos pessoas que amam pela essência, independentemente da cor, raça ou deficiências”, afirma Jorge Pina, que está com Raquel há cerca de cinco anos. É ela, hoje, a sua treinadora no atletismo.

“O professor José Santos continua a ajudar-nos, mas como ele não tem tempo, agora é a Raquel quem gere o treino. É muito exigente.“ O atleta tem atualmente dois guias: Luís Ginja, que é seu guia há seis anos, e Paulo Hermezilha, guia há um mês e seu amigo há 15 anos. Atualmente, está a treinar para o Campeonato do Mundo de Cegos IBSA (Associação Internacional do Desporto para Cegos), que se realiza no fim de julho, em Lyon.

Foi em 2004, quando Jorge Pina estava a treinar em Espanha com Javier Castillejo para o Mundial de boxe, que se deparou com umas borbulhas no olho, acabando mais tarde por saber que era um descolamento de retina. O médico não o elucidou acerca da real gravidade do problema e o atleta ainda foi combater no Algarve e na Polónia. Quando regressou a Portugal, já com sensibilidade à luz solar, voltou ao médico e teve de ser operado de urgência.

Na cirurgia, a retina ficou dobrada e teve de fazer mais cirurgias ao olho esquerdo, até perder totalmente a visão. Numa consulta de rotina disseram-lhe que tinha de ser operado ao olho direito, caso contrário podia ficar cego, e foi submetido a várias cirurgias. O desfecho foi semelhante.

Jorge Pina vive agora com cerca de dez por cento da capacidade do olho direito. Ana Pina, de 27 anos, tem uma enorme admiração pelo irmão e gaba-lhe a coragem de ter aceitado o desafio de 'Splash!'. Apesar de o irmão estar bem resolvido com a vida, Ana não consegue aceitar a sua condição.

“Para mim foi complicado quando isto aconteceu e não acompanhei muito essa fase, porque não conseguia lidar com ela. Lembro-me de ir ao hospital e acontecer isto.” “Isto” são as lágrimas a virem aos olhos de Ana, que se emociona quando recorda a história do irmão. “Mexe sempre comigo. A mim marcou-me muito. Ele adorava o boxe, era a vida dele, e perder tudo é ficar sem chão, e eu acho que senti muito isso”, declara, com as emoções à flor da pele. Ana é muito ligada ao irmão e quando decidiu trocar a advocacia pela consultoria de imagem, quis saber qual era a opinião do irmão, que lhe deu força para ir atrás daquilo que é o seu sonho.

Jorge Pina não pôde prosseguir com o seu sonho no boxe, mas continua ligado ao desporto enquanto atleta paraolímpico de atletismo e é personal trainer no Holmes Place, onde dá aulas de RPM (cycle indoor) e boxe há mais de dez anos. No passado foi paraquedista e esteve na Bósnia em missão de paz. Hoje dedica-se também à Associação Jorge Pina, através da qual procura promover valores, o bem-estar psíquico e social através da prática desportiva e de atividades lúdicas para os jovens.

“Tento ajudá-los a perceber qual é o caminho deles. Que saiam do ambiente do bairro e do gueto, do fumar drogas, o hip-hop, o dread e o ‘tá-se bem. Eles podem ser isso tudo, serem cool, mas sem drogas”, declara Jorge Pina, que também viveu num bairro problemático, no Rego, em Lisboa, e esteve ligado às drogas. Este é um assunto sobre o qual Jorge não se sente confortável em falar, apesar de não se envergonhar do seu passado, pois tem consciência de que todo o seu percurso de vida pode servir de exemplo de como é possível seguir em frente.

Feliz com a sua participação no programa da SIC, Jorge Pina revela que este é um desafio importante na sua vida. “Estou a gostar muito da experiência, sobretudo porque quero mostrar às pessoas que não há impossíveis. Ao estar no Splash! pretendo levar uma mensagem de fé e de confiança, porque as pessoas só têm de acreditar em si mesmas”, afirma. O maratonista tem uma relação muito cúmplice com as três filhas, mesmo com a mais velha, que vive na Holanda.

“As minhas filhas são tudo para mim, estão em primeiro lugar sempre. Elas são a minha vida.” Jorge gosta de fazer programas com as filhas e de vez em quando vai ao cinema com elas. Um dos últimos filmes que foram ver foi Entrelaçados, uma aventura de Rapunzel que o emocionou.

“Comecei a chorar não sei porquê, sou muito sentimental”, diz o atleta, que assume que por detrás da imagem de homem forte “está uma florzinha, porque sou um grande chorão”. Porém, quando está em cima da prancha de Splash!, Jorge Pina é um guerreiro, tal e qual como na vida, e após ter mergulhado dos cinco metros de altura, na próxima edição pretende saltar dos sete. “Estou convicto de que vou mergulhar dos dez metros, nem que seja de pés”, vaticina o atleta.

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