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“Fiz tudo pelos meus impulsos”

Famosos

TOY recua ao início da carreira e conta como tem sido a sua vida até aqui
Nasceu António Ferrão, mas alcançou a fama como Toy. Aos 48 anos, numa conversa com a VIP
na Pousada de São Filipe, em Setúbal, o cantor faz um balanço da sua vida, toda ela conduzida pelos seus impulsos, e garante que não mudava nada, nem os erros.

Sex, 11/03/2011 - 0:00

 Nasceu António Ferrão, mas alcançou a fama como Toy. Aos 48 anos, numa conversa com a VIP
na Pousada de São Filipe, em Setúbal, o cantor faz um balanço da sua vida, toda ela conduzida pelos seus impulsos, e garante que não mudava nada, nem os erros.

VIP – Ser cantor é um sonho de criança?
Toy – Foi tudo aquilo de que me lembro de querer desde os quatro anos. Nunca hesitei quanto ao que queria ser.

Quando é que essa paixão tomou uma proporção maior do que um sonho?
Quando me convidaram para ir para o teatro subi um degrau. Dos 11 aos 15 fiz teatro amador enfrentando o público. O maior palco que pisei foi o Luiza Todi, com 11 anos. A primeira ida à televisão foi ao programa TV Palco apresentado pelo Igrejas Caeiro, em 1976. A partir daí, se já existia um grande amor, foi uma espécie de noivado.

É da experiência no teatro que vem a sua forma de estar, sempre a brincar?
Se calhar, mas acho que herdamos muito dos pais. Acho que herdei a musicalidade e criatividade do meu pai. Herdei a voz forte, o sentido de humor e o espírito da minha mãe. A minha mãe era uma mulher de anedotas e de animação. Do meu pai herdei ainda a parte mais séria, o gosto pela leitura e o gosto pela cultura. Gosto de me cultivar e tento sempre ter "mente sã em corpo são".

Até que aos 17 anos vai para a Alemanha.
Sim. Até então levava uma vida normal como qualquer jovem. Estudava, fazia teatro, tocava vários instrumentos e organizava bandas de baile. Na Alemanha tive que me fazer à vida, no sentido financeiro, porque tinha casado. Tive que aprender uma profissão diferente daquela que tinha estudado – administração e comércio. Aprendi a profissão de torneiro à força do trabalho.

O que o levou a abandonar o País?
O impulso! Tudo na minha vida foi feito pelo impulso. Não penso antes de fazer. Faço e depois logo penso.

Ainda é assim?
Sou e espero continuar a ser. No balanço que faço de 48 anos de vida, esta minha impulsividade numa ou outra coisa foi negativa mas no resto foi positiva. Escrevo poesia e quando se passa o rascunho a limpo começamos a emendar algumas coisas e perde-se a piada. Mais vale um erro ou outro pelo meio do que passar a limpo e perder a graça.

É assim com a sua vida?
A minha vida nunca foi para passar a limpo. Fui para a Alemanha quando conheci a mãe dos meus filhos. Achei que era a mulher para casar e fui atrás dela. E casei (risos).

Mantinha o vício da música?
Sim. Tive uma banda new wave onde tocava guitarra e cantava. Tive outra de jazz popular brasileiro com música exclusiva de António Carlos Jobim, onde cantava e tocava. Formei ainda um grupo de fados. A música esteve sempre presente na minha vida. Foi sempre um paralelismo entre tudo aquilo que tinha de ser e aquilo que queria ser.

Que memórias guarda desses tempos?
Quando lá cheguei deslumbrei-me com aquilo tudo. Era um país muito organizado, ao contrário de Portugal, estamos a falar de 1980. A única coisa que estranhava era o frio e o facto de as pessoas se deitarem mais cedo. Depois conheci um grupo de jovens portugueses que me acolheram muito bem. Casei-me em 1981 e também foi muito interessante porque é o princípio da construção de uma vida. Quando me apercebi do país em que vivia cheguei à conclusão de que não era a sociedade onde queria viver.

E aos 25 anos regressava a Portugal. Foi o impulso?
Exacto. Houve um dia em que cheguei a casa e disse: “Vamos embora para Portugal, estou farto da Alemanha”. A minha mulher disse que não tínhamos casa nem emprego mas respondi: “Arranjamos. Estou farto disto. Quem quiser vir vem, quem não quiser que fique mas eu vou.” E vim…

Não estava melhor na Alemanha?
Pois. A minha vida tem sido assim, quando acabo de fazer o "castelo na praia" apetece-me fazer outro. Quando está pronto já não tem piada. A vida é uma luta constante de construção. Não podemos ficar a contemplar o que fizemos, temos que partir para outra. Quando já tinha emprego oficial (tinha estado três anos com trabalho clandestino), quando já ganhava bem e já tinha uma boa casa decidi regressar. Comecei tudo do princípio mas abençoada a hora em que viemos. Na altura foi complicado, mas passados dois anos as coisas já estavam recompostas.

Em que altura é que se apercebeu que conseguia viver da música e ter sucesso?
Isso foi sempre uma certeza. O que esperava era um sinal dessa certeza. Nunca tive dúvidas de que seria cantor e músico.

Quando surgiu o sinal?
Enquanto estive na Alemanha não deixei de fazer música. Enviava cassetes para o meu pai entregar às editoras. Na Valentim de Carvalho conheceu o Mário Martins e apresentou-lhe o meu trabalho. O Mário dignou-se a escrever uma carta onde dizia que não queriam o António Ferrão para cantor da editora mas tinham gostado das músicas e pediram autorização para outros artistas gravarem as músicas. Foram três para o Marco Paulo e uma para o José Alberto Reis. Quando recebi duzentos e tal contos de direitos de autor fiquei com a sensação de que não dava para viver daquilo mas não ia morrer de fome.

É um autor que canta bem e também produz ou um cantor que até tem jeito para compor e produzir?
Estou colectado nas finanças como músico (risos). Sou músico com alguma versatilidade, pois tenho a sorte de ter voz, algo que não tem nada a ver com o saber cantar, pois um cantor precisa das duas coisas. Tenho a certeza de que tenho voz e sei cantar.

É um auto-elogio forte.
É constatar um facto. Obviamente muita gente não gosta da minha forma de cantar. Isso é normal porque gostos não se discutem embora alguns se devam lamentar (risos). Faço músicas que considero fantásticas e faço outras que ouço passado algum tempo e acho que podiam ter sido melhores.

Consegue destacar um ponto alto no seu percurso?
Ainda estão para acontecer (risos). Sei que irei muito mais longe. Mas já aconteceram coisas muito engraçadas. O meu primeiro álbum na Discossete foi disco de prata. No Festival da Canção de 1991 ganhei o prémio interpretação. Há projectos de sucesso a que estive ligado e que as pessoas nem sabem.

Passou-se algo do género com a gravação de lambadas…
Sim. Gravei lambadas da minha autoria, com a minha voz a cantar em português do Brasil. Ninguém sabia que era o Toy e as músicas eram gravadas em nome de uma banda que não existia, os Camuta. Vendemos mais de um milhão de exemplares de LP´s.

Gravou a fingir que não era o Toy.
Sim. Gravei covers de novelas a fazer a voz da Fafá de Belém, no início dos anos 90.
Falando do presente, está com 48 anos, como está a sua saúde?
Ao contrário do que foi dito, não tive problema nenhum no coração. Sofri um Acidente Vascular Cerebral, mas recuperei a 100%. Tenho a certeza de que estou apto para chegar aos pontos altos da minha carreira.

Nunca se fartou da música?
Estou um bocado desiludido, não só com o mundo da música, mas com o mundo em geral. Cada vez há mais egoísmo, mais inveja. São sentimentos nocivos a uma sociedade que deseja crescer. As pessoas ainda não perceberam que ver os outros bem é bom.

Em Portugal um cantor ganha bem?
Acho que não. Depende do cantor, pois a história é o cantor que enche. Se enche, dá lucro a quem organiza e se dá lucro deverá ser o mais bem pago. O Cristiano Ronaldo vende muitas camisolas e enche estádios. Por isso, paga-se a ele próprio. Na música é a mesma coisa.

É uma espécie de Cristiano Ronaldo da música portuguesa?
Gosto muito dele, mas a carreira de um futebolista não tem nada a ver com a de um músico, é mais efémera. Não há "Cristianos Ronaldos" na música. No sentido metafórico não seria um CR, mas um jogador de primeira linha de um clube grande (risos).

Esperava o sucesso do último álbum?
O Recordações vol. 3 é um disco fantástico mas já é o terceiro neste registo. Vou ter que mudar.

O que se segue?
Um disco de originais. Provavelmente será lançado até ao final deste ano.

Tem sido fácil gerir e exposição da sua vida pessoal ao longo da carreira?
Pensava que era mais fácil, porque sou honesto e a minha honestidade é um pouco ingénua. Sempre abri a porta da minha vida. Toda a gente entrou e vasculhou. As coisas boas transformaram-se em más e não fechei a porta pela minha coerência e honestidade. Acabou a tempestade, voltou a bonança e decidi fechar a porta porque não souberam respeitar o que mostrei.

Refere-se ao divórcio e ao caso…
… Do filho que não era meu.

É complicado ver as notícias?
É bonito quando vemos a nossa fotografia nas revistas nas fases boas. Quando as coisas correm mal não é bonito, mas não me chateava se houvesse honestidade. Não houve revista nenhuma que não dissesse: “o filho do Toy”. Para mim este assunto só não está arrumado porque estou a pagar.

Acreditou ser o pai da criança devido à sua honestidade e forma de ser?
Se calhar. Podem chamar ingenuidade, mas chamo-lhe honestidade. Uma pessoa com quem estive na cama diz-me ter um filho meu, acredito. Depois percebi que as contas não batiam certo e decidi fazer o teste e ainda bem que o fiz.

Espera reaver o dinheiro?
Não espero nada. Esperava que houvesse Justiça. Vamos aguardar.

Foi o impulso que o levou a divorciar-se?
Fiz 25 anos de casado, mas a partir daí resolvi mudar de vida. Se calhar as coisas já não estavam bem. Mais uma vez, comecei do princípio. Não me arrependo de nada do que fiz até hoje e foi mais uma bela decisão.

O AVC de que foi vítima poderá estar relacionado com tudo isto?
Tenho a certeza, falei com os médicos sobre isso. O meu sistema nervoso alterou se, sendo hipertenso, tive maior dificuldade em controlar a tensão. Estando chateado, vinguei-me na comida e na bebida. Isso aumentou-me o colesterol. Foi uma série de coisas.

A Daniela foi um balão de oxigénio?
Foi o meu braço direito e o esquerdo (risos). Quando um homem é mais mais velho e cantor pensamos que podem querer dinheiro ou fama. Mas dinheiro não tinha, porque fiquei teso. Não foi por interesse nem foi pela fama. Cheguei à conclusão que foi por gostar de mim. Todas as suas posições foram observadas muito atentamente por mim para saber que tinha ali uma aliada e uma cúmplice.

Fiquei teso” é uma força de expressão ou ficou literalmente sem dinheiro?
Quando me divorciei fiquei praticamente sem nada. Comecei do princípio…

Foi um momento complicado?
O complicado é relativo. Pensei que já tinha estado sem nada e que tinha voltado a ficar sem nada mas com uma vantagem. O meu nome tinha algum valor. Chegava a um banco e tinha crédito, algo que não acontecia há 20 anos. Tendo crédito e saúde, está tudo bem.

Está totalmente reerguido?
Totalmente não, mas estou reerguido. Não estou com a mesma disponibilidade financeira da altura em que me divorciei. Mas felizmente estou bem.

Foi o impulso que o levou a querer casar novamente, depois de tudo o que passou?
Claro! Era algo que merecíamos e foi algo que fizemos de consciência tranquila.

Tem vontade de ser pai novamente?
Isso faz parte do futuro e pertence àquela fase da vida sobre a qual não vou falar.

Preferia ser avô primeiro ou pai?
Gostava muito de ser avô, é um desejo muito grande, mas é algo que não me compete.

Qual o maior sonho que quer realizar?
O maior sonho é ter saúde para ver crescer os meus netos e para poder ter um bom ambiente familiar numa casa pacata com uma lareira bonita. Não vou muito além disso.

E o receio?
Que aconteça algo aos meus filhos.

Se voltasse atrás, há alguém a quem pedisse desculpa por algo?
A quem tinha que pedir, já o fiz. Os erros são importantes para aprender e voltava a fazer tudo da mesma forma.

Texto: Bruno Seruca; Fotos: Paulo Lopes e Impala; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L´Oréal Professionnel

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