Alice E Andreia Contreiras
Falam sobre o sucesso da carreira como manequins internacionais

Famosos

Saíram de Loulé aos 16 anos para fazer trabalhos pontuais no mundo da moda e aos 18 começaram numa carreira além fronteiras

Qui, 02/01/2014 - 0:00

Sim, parece que estamos a ver a Penélope Cruz a dobrar. Mas não é. Chamam-se Alice e Andreia Contreiras, são irmãs e modelos profissionais. No dia em que estiveram à conversa com a VIP, no The Lake Spa Resort Hotel, em Vilamoura, tinham acabado de chegar a Portugal e já tinham na carteira o bilhete de regresso a Nova Iorque, onde moram e de onde viajam constantemente para pisar as passerelles dos vários cantos do Mundo. Saíram de Loulé com 16 anos para fazer trabalhos pontuais no mundo da moda, depois de Andreia ter ganho o concurso Elite Model Look 2003, e de Alice ter sido a vencedora do concurso Cabelos Pantene, também no mesmo ano. Aos 18 anos abraçaram a carreira internacional e hoje, com 26, apesar de afirmarem que é no Algarve que se sentem em casa, admitem que ainda é cedo para regressar ao sítio que as viu nascer. Não vivem uma sem a outra. São gémeas verdadeiras e contam que por serem tão iguais andam “sempre às turras”. Mas há diferenças.

VIP – Se observarmos bem, é fácil distinguir­-vos…
Andreia Contreiras – É o que fazemos quando temos de nos demarcar uma da outra, começamos logo pelas diferenças físicas. Ou então não: eu sou a mais desarrumada (risos).
Alice Contreiras – Ai é?! Quando eu te digo que és desarrumada tu não admites (risos). A minha irmã tem o rosto mais alongado. A minha cara é mais quadrada e tenho um dedo vermelho, uma marca de nascença.

De que forma é que isso se aplica no vosso trabalho?
Alice – Eu faço mais trabalhos de moda, sou um bocadinho mais alta, o que para a passerelle é melhor. Mesmo assim, só em Portugal é que fazemos mais passerelle. Lá fora somos mais comerciais, temos rostos comerciais e não tanto de passerelle.
Andreia – Eu faço mais campanhas publicitárias para a televisão. Para moda, os traços da minha irmã são mais vincados.

Isso leva a que trabalhem mais vezes separadas?
Andreia – Em Nova Iorque trabalhamos muitas vezes separadas, nem sempre vamos juntas aos castings. Tem sido equilibrado e temos trabalhado mais ou menos a mesma coisa. Não há lutas por causa disso (risos).

Há bocado diziam-me que gostam mais de trabalhar juntas.
Alice – Agora, sim. No início, tentámos não ser gémeas e quisemos ir para agências diferentes. Começámos a trabalhar e não dissemos logo que éramos gémeas. Na escola também quisemos ir para turmas diferentes, para que não nos vissem como uma só. Só existia o conjuntos e as pessoas até faziam aquelas piadinhas de que não gostávamos nada. Do tipo: “por que é que estás a comer um gelado e a tua irmã não?” Não tínhamos nome, éramos “as gémeas”. Então, quisemos ser independentes uma da outra.
Andreia – Chateávamo-nos muito com isso, com as pessoas e uma com a outra. Toda a vida nos chateámos e hoje também acontece regularmente. Não é fácil lidar com uma pessoa que é o nosso espelho. Mas também não vivemos uma sem a outra. Não sabemos o que é não nos termos uma à outra.

Então sabem tirar o melhor partido do facto de serem gémeas?
Andreia – No mundo da moda existe uma constante necessidade de inovar. Penso que a  aposta em gémeos é uma forma de inovar.
Alice –  É engraçado poder jogar com isso em editoriais. Fazer o bom e o mau (risos).

Como é que tudo começou?
Andreia – Eu queria seguir esta profissão muito mais do que a minha irmã. Comecei primeiro e depois ela ficou invejosa (risos).
Alice – Não foi nada assim. Estão a ver?! Estamos sempre a picar-nos, dá para perceber quem é o anjo bom e o anjo mau (risos). Eu era mais maria-rapaz, desligada das coisas da moda e não gostava tanto de me “produzir”. O clique deu-se quando a minha irmã venceu o concurso da Elite. A seguir, surgiu a oportunidade de participar nos Cabelos Pantene da Central Models, que venci. Foi quando começámos a trabalhar e a viajar.

Como foi essa mudança de vida, aos 16 anos?
Andreia – Agora, vendo bem, acho que sofremos um bocadinho de bullying (risos).
Alice – Quando começámos a sair nas revistas, colaram nas paredes da escola as páginas com bonecos na nossa cara.

Como lidaram com isso?
Andreia – Agora, acho que lidámos bem. Os nossos pais foram uma ajuda fundamental naquela altura, como têm sido sempre.

E a primeira separação, como foi?
Andreia – Tínhamos 18 anos. Aconteceu na primeira proposta que recebemos. Eu fui para Milão, a minha irmã para Paris. Não trabalhei quase nada em Milão.
Alice – Eu tive logo trabalho em Paris, para boas marcas. Acontece que não me adaptei. Por incrível que pareça, não gostei da cidade. Foi muita coisa ao mesmo tempo. Tudo novo, diferente. Fazer fotografias, viajar. Não foi fácil. Tinha namorado, na altura, e ele estava cá. Foram as saudades, o medo de que alguma coisa corresse mal. Foi difícil aprender a lidar com tudo, especialmente com os “nãos”. 

Como foi essa aprendizagem?
Andreia – Este não é um meio fácil, mas também pode não ser difícil. E a forma como encaramos tudo, desde o início da carreia é fundamental para o sucesso. Saímos de Portugal a trabalhar bem, lá fora fazíamos castings e não tínhamos trabalho. Afetou a nossa autoestima.
Alice – Depois, começámos a ter noção de que, às vezes, não conseguimos os trabalhos por sermos mais bonitas ou mais feias. É porque não tem de ser; é porque o cliente tem uma ideia fixa.
Nessas alturas, ponderaram recorrer à via mais fácil: desistir e regressar para Portugal? Alice – Sim, mas tivemos orientação. Da nossa família, das agências e de colegas com quem partilhávamos casa, mais velhas e com mais experiência. Fizeram-nos perceber que o processo normal é assim.
Andreia – Houve uma altura em que ponderámos voltar, porque trabalhávamos muito bem cá. Mas preferimos continuar a apostar na carreira internacional. Pela experiência e pela maturidade. Atrevo-me a dizer que crescemos muito mais nesta profissão do que se tivéssemos ido para a universidade. Antes de viajarmos éramos muito tímidas.
Alice – Eu tinha vergonha de dizer “bom dia”. Fomos obrigadas a mudar. A mudar a postura e também a nossa personalidade.

Quando é que tudo começou a correr bem?
Andreia – Quando começámos a viajar juntas. Em 2008, houve o boom das gémeas e pegámos nisso.
Alice – Fomos para a Ásia, depois para Nova Iorque. Não íamos com nada definido, fomos à procura de uma agência. Como gémeas, as coisas começaram a correr bem e têm-se mantido assim até hoje, felizmente.

Quais as reais diferenças entre o mercado nacional e o internacional?
Andreia – Cá é família, não sentimos pressão quando estamos a trabalhar. Conhecemos toda a gente.
Alice – Lá fora parece que é mais a sério, há mais pressão e tudo tem um ar mais profissional. Eles cumprem os horários à risca e é tudo muito certinho. Aqui, não é tanto assim, é diferente.

O que preferem: cá ou lá?
(Pausa)…
Andreia – Se pudesse trabalhar aqui como trabalho lá fora, ficava cá a tempo inteiro.
Alice – Lá sentimos sempre que estamos no estrangeiro, não há como contornar.

Onde é que sentem que é a vossa casa?
Cá. Sentimos que é cá, sempre cá. Sabe bem estar em Nova Iorque, mas não existe aquele sentimento de pertença. A nossa casa será sempre aqui.
Andreia – Desde que saímos de Portugal, este é o nosso primeiro ano a morar mesmo num sítio e, de todos locais onde já estivemos, é onde nos sentimos melhor. Há sempre trabalho e clientes fixos. Isso ajuda a que o resto corra melhor.

O sucesso que têm lá fora traz-vos trabalho em Portugal?
Andreia –  Sem dúvida que sim, mas nem sempre é fácil vir cá fazer trabalhos, por causa dos trabalhos que temos lá.
Alice – Devido à situação do País, deixou de haver muito trabalho. Quando comecei a viajar, quando vinha cá, trabalhava muito melhor. A experiência lá de fora faz-nos chegar cá com outra postura.

Ganha-se muito dinheiro nesta área?
Andreia – Pode ganhar-se, sim. Mas depende…

Depende de quê?
Alice – Se for um anúncio, pode ganhar-se muito bem. Chegámos a fazer castings cujo cachet eram 30 mil dólares (21 mil euros).

Ficaram com esse trabalho?
Andreia – Não. O máximo que já fizemos foram 15 mil euros cada uma. O cliente paga por modelo.
Alice – Mas é muito incerto, podemos fazer um trabalho de 15 mil e depois não termos trabalho durante algum tempo.
Andreia – De uma forma geral, não nos podemos queixar. Às vezes, estou ao telefone com a minha mãe a queixar-me que estou a receber mal por um trabalho e lá tenho de ouvir: “Sabes quanto preciso de trabalhar para ganhar isso?”
Alice – Um dia que tenhamos uma profissão dita normal, nunca será assim. Vai custar um bocadinho.

Algum dia vão querer ter uma profissão dita normal?
Alice – Acho que não (risos). Mas sabemos que não podemos ter esta profissão para sempre.
Andreia – Ainda falta um bocadinho até atingirmos o auge da carreira. Temos a vantagem de parecermos mais novas, talvez por isso consigamos trabalhar mais tempo.

Sentem a pressão das exigências associadas à vossa profissão?
Alice – Sim, sentimos pressão. Por exemplo, fazem questão que tenhamos certos cuidados.
Andreia – Lidamos bem com isso. Sabemos que o nosso corpo é o nosso instrumento de trabalho.

Os desfiles da Victoria´s Secret têm estado em destaque no nosso país, devido à participação de modelos portuguesas. Gostavam de ser as primeiras gémeas a desfilar para a marca?
Alice – É um dos nossos planos para este ano. Queremos continuar em Nova Iorque e vamos dar o nosso melhor para que isso aconteça.
Andreia – Chegar lá é uma questão de talento e de sorte. E de estarmos no local certo, à hora certa.

Já sabem quando devem estar no local certo à hora certa?
Acho que, neste momento, Nova Iorque é o lugar certo. Sentimos isso.
Andreia – É lá que tudo acontece. Depois, só depende da nossa postura. Somos profissionais, acima de tudo. Para ser-se modelo basta ser-se alta e bonita. Agora, para se ser uma boa modelo, é preciso um bocadinho mais do que isso. É preciso saber fazer a diferença.

De que forma mostram a vossa diferença?
Andreia – Não nos achamos melhores do que ninguém. O nosso trabalho é um todo, composto pelo trabalho de outros profissionais. Nunca exigimos nada. Nunca exigimos a maquilhagem, a roupa ou uma posição para fotografar.
Alice – Estamos ali para fazer o nosso trabalho e temos de respeitar o que nos é apresentado.

Já aconteceu fazerem um trabalho e, depois, não gostarem do resultado final?
(Respondem as duas ao mesmo tempo) – Não somos nós que temos de gostar.
Andreia – Nesse aspecto, somos um bocado objeto. É o nosso trabalho, não é algo pessoal. Não é a Andreia que ali está, é o trabalho da Andreia. O que interessa é que o cliente esteja satisfeito.

Texto: Micaela Neves; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e Cabelos: Vanda Pimentel, com produtos Maybeline e L’Oréal Professionnel

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