Maggy Folque
Fala da importância da família e do pai

Famosos

“O meu pai foi sempre um ídolo para mim”

Sex, 06/12/2013 - 0:00

Os anos passam, mas Maggy Folque conserva, aos 53 anos, a beleza e a elegância de sempre. A empresária fala da importância da família na sua vida, da relação cúmplice com os quatro filhos – João, 30 anos, Salvador, 28, Francisco, 23 e José, de 17 – e da perda do pai, o antigo presidente do Sporting, João Rocha, que morreu em março deste ano. “O meu pai foi sempre um ídolo para mim”, afirma com os olhos a brilhar.

VIP – Que significado tem para si continuar a ser considerada uma das mulheres mais elegantes, aos 53 anos?
Maggy Folque – Não me visto para ser olhada dessa forma, até porque sou uma pessoa low profile e não gosto de aparecer muito. Visto-me para mim, para me sentir bem, e porque, à frente de lojas, temos de ter uma aparência que faça as pessoas confiarem no nosso gosto. Não vivo com a preocupação de ser considerada elegante.

Mas já foi eleita Elegante VIP pela nossa revista… Sente uma responsabilidade acrescida?
Não. Foi uma honra enorme, porque não estava a pensar que alguma vez iria ganhar. Todas as mulheres são bonitas por fora. Às vezes, a diferença na elegância é por dentro. Fiquei contente por me terem eleito, naquela altura, mas para mim a importância da elegância limita-se ao meu trabalho e à maneira como eu gosto de me sentir bem.

E lida bem com o passar da idade?
Completamente. Quando somos muito bonitos, somos também muito mais imaturos. Hoje em dia, temos rugas, mas temos também outra sabedoria. Há pessoas que têm a sorte de ter a vida mais facilitada que outras, mas tudo isso dá-nos uma certa estaleca para continuar em frente.

O que sente que a idade traz de melhor?
Tudo. Posso dizer-lhe que todas as experiências que vivi fortaleceram-me como ser humano, não só para poder ajudar as pessoas que me rodeiam e precisam de mim, mas também para poder dar exemplos aos meus filhos.

Diria que ver os filhos criados e homens feitos é também uma das coisas boas?
Isso é fantástico. Eu vivo para os meus filhos e saber que eles já estão mais ou menos encaminhados, apesar do mais novo ter 17 anos, e vê-los a serem bons no que fazem, para mim, é a maior satisfação. A preocupação máxima que tenho é a de transmitir-lhes aquilo que me transmitiram a mim, porque eu sou a pessoa que sou graças ao meu pai e à minha mãe, cada um no seu contexto. Em termos de determinação, força, persistência e querer vencer na vida sou completamente como o meu pai.

Foram esses os principais ensinamentos que ele lhe passou?
Exatamente. Nunca baixar os braços. Da mãe, acho que herdei o bom gosto na casa. Antes de de estar ligada à área da roupa, fazia decoração e esta altura do Natal era muito forte para nós. A mãe tinha sempre a casa maravilhosamente arranjada, umas ideias fabulosas e muito à frente da época, e eu vibrava imenso. Para mim, o melhor presente era ter a casa de uma maneira diferente todos os anos. Aquilo era, para mim, um ensinamento. Tento transmitir aos meus filhos tudo o que aprendi em miúda, porque adorava que, um dia, eles transmitissem isso aos meus netos. As crianças não precisam de bens de consumo para serem felizes. Na minha altura não havia nada disso. Sou da altura em que tínhamos uma bicicleta se passássemos na 4.ª classe, mas há outras coisas e são essas que levamos connosco. Com esta idade, e em alturas em que eu me sinta muito em baixo, pelos cheiros e fechando os olhos consigo sentir exatamente o que sentia quando era muito miúda. Apesar de, este ano, ser muito complicado para mim, porque é o primeiro Natal que eu passo sem o meu pai, muitas vezes, quando estou na loja e isso me ocorre – que é quase todos os dias – fecho os olhos e consigo sentir o que sentia com oito ou nove anos, quando ainda acreditávamos no Pai Natal. Isto é muito mais importante, porque os presentes estragam-se, deitam- -se fora e, às vezes, são em demasia. Mas as sensações ficam para sempre.

Disse que vive para os seus filhos e um deles, o Salvador, está em Londres a fazer o mestrado em Arquitetura. Como foi a separação e ver um filho “ganhar asas”?
Eu sou uma mãe-galinha, mais do que o habitual. Só tenho uma semana de férias e faço questão que os meus filhos venham todos comigo, somos muito unidos. Nunca tive um filho que fosse de férias para fora sozinho. Quando ele teve a oportunidade de ir para Londres, custou-me imenso a separação e nunca vou levá-lo ao aeroporto, despeço-me sempre em casa e falo com ele todos os dias pelo Skype. Mas a satisfação que tenho com os resultados dele, com os projetos que apresenta, com as pessoas famosas para quem ele trabalha… isso, para mim, é o melhor presente que posso ter e compensa a separação.

É evidente que tem uma relação muito cúmplice com os seus filhos. Como descreveria a vossa relação? É mãe de quatro filhos rapazes
Nunca tive uma rapariga, espero agora ter muitas netas e muitas noras. É giríssimo, porque são quatro rapazes com feitios diferentes, têm gostos diferentes a nível profissional, mas dão-se todos lindamente. O mais velho, o João, é muito ligado ao campo, é responsável pela parte dos vinhos. O Salvador é arquiteto. O Francisco está em hotelaria e a fazer um estágio no Kais. O mais novo ainda está a definir o que quer ser, mas eu acho que vai ser economista. Há uma coisa que eles têm em comum: o desporto. Fazem desporto hípico de maneiras diferentes: uns fazem atrelagem, CCE (Concurso Completo de Equitação), outros fazem saltos. Tive uma alegria enorme quando o Salvador foi para Londres e inscreveu-se no remo, porque o meu pai foi campeão de remo. Antes do meu pai morrer, ainda tive a alegria de lhe poder mostrar o neto a remar.

O seu pai [João Rocha] foi presidente do Sporting e, apesar do clube ter várias modalidades, pensamos inevitavelmente em futebol. Nenhum quis enveredar pelo futebol?
Não. Quando os miúdos nasceram, só o mais velho apanhou o meu pai como presidente do Sporting. Todos adoram futebol, mas não são sportinguistas. São todos benfiquistas por causa do meu marido. Eu sou sportinguista ferrenha.

E vai ao estádio?
A última vez que fui, foi no jogo em homenagem ao pai. Não tenho ido, ultimamente. Vivo muito para os meus filhos e para o trabalho. O único dia que tenho para descansar é o domingo e preparo tudo para a semana seguinte de trabalho. Quando tenho possibilidade, vejo na televisão.

Como quer sempre poder recordá-lo?
O meu pai foi sempre um ídolo para mim. Em tudo o que eu faço, há sempre qualquer coisa dele. Tudo aquilo que ele me dizia, eu assimilava para poder fazer. Quando ele me dizia: “Achas que se pode fazer amanhã ou depois um jantar para 1000 pessoas?” Eu dizia sempre que sim. Em todas as coisas que faço, toco ou mexo, lembro-me dele, porque ele está sempre presente na minha vida em tudo. Vou sempre recordá-lo como um grande homem, um grande gestor, uma pessoa com uma visão dos negócios e da vida como nenhum de nós tem. Tenho um grande orgulho que ele tenha sido meu pai.

Mudando um pouco de assunto. A quinta onde tem os seus cavalos é o seu refúgio? É onde gosta de se encontrar e meditar?
Abracei de forma intensa todos os negócios que tenho, que não são só as lojas. Eu estou sempre à frente em tudo o que faço. Não as deixo ficar por mãos alheias, apesar de ter boas equipas a trabalhar comigo. Estou todos os dias no ativo a fazer as mesmas coisas que os empregados, porque eu acho importante darmos o exemplo. Abdiquei de toda a minha vida social e de festas e, hoje em dia, sou uma pessoa muito isolada. Descobri que basta estar sentada no jardim, quando está bom tempo, para me ocorrem todas as ideias. Se vou para a praia às sete da manhã na semana em que tiro férias, o estar sozinha, ver a areia sem pegadas, ouvir apenas as ondas, sem mais barulhos de ninguém… levo sempre comigo um bloco e caneta e consigo desenhar as montras, as decorações, o que vou fazer para o Natal, as coleções, as cores, como vou montar tudo… É nestes períodos, quando estou sozinha, que me correm as melhores ideias.

E as ideias também lhe surgem quando está na quinta?
Sim, gosto muito de estar em contacto com a natureza. Detesto estar dentro de casa. Eu preciso é de estar rodeada de arvoredo ou perto do mar. Eu adoro plantar flores.

Também tem uma veia de cavaleira?
Eu entro com os meus filhos nos concursos. Eles fazem atrelagem e eu sou grumo deles e já participei em dois campeonatos do mundo.

O que é ser grumo?
A atrelagem pode ser feita a um, dois ou a quatro cavalos. O condutor, à frente, leva os cavalos e o grumo vai na parte de trás do carro. São três provas: de ensino, cones e maratona. Eu entro com eles na prova de ensino e de cones. O grumo vai na parte de trás do carro para fazer peso, para o carro não se virar.

Sobre os seus negócios. Abriu a loja Life & Style no Campo Pequeno. Como está a correr?
Neste momento, estamos com três lojas no Campo Pequeno, todas elas com estilos diferentes. Renovámos, há pouco mais de um mês a Maggy que, nesta altura, também tem decoração de Natal. Temos a Life & Style que está focada na camada jovem e tenho uma frase que define muito bem o conceito: “For young daughters & mothers with a young spirit.” Acho que foi um risco muito grande que eu tomei nesta altura, mas acho que não podemos baixar os braços e, para minha surpresa, apesar de eu querer chegar a um público dos 17 aos 20 e poucos anos, acabei por perceber que havia imensas amigas da minha idade e pessoas que eram minhas clientes que gostam de vestir roupas mais jovens, embora, evidentemente, com moderação. E adorei, porque comecei a ver as mães das miúdas ou as filhas a dizerem: “Mãe leve para si que eu uso também.” Tenho outra loja pequena, a New Look, que é mais direcionada para um outlet, com coisas muito acessíveis.

E o que aconteceu com a decoração, que a apaixonou durante tantos anos?
Eu continuo a fazer decoração sempre que me pedem. Ainda estou no ativo nessa área e, nesta altura, faço imensas decorações de Natal para empresas, bancos ou hotéis. Infelizmente, acho que mudou muito o conceito da decoração em Portugal. As pessoas, entre viverem numa casa fantástica ou vestirem-se de acordo com a moda, preferem a segunda hipótese. Nesta altura, é muito mais viável para nós – e com muito mais resultados – termos lojas de roupa do que de decoração. Foi, durante vários anos, organizadora de festas no Palácio de Xabregas.

Tem saudades desses tempos? Gostava de retomar um dia?
Quando estive à frente do Palácio de Xabregas fazia as decorações, mas estava também à frente da cozinha. Acho que herdei isso do meu pai, que cozinhava muito bem, e desde muito nova me ensinou a cozinhar. Eu ficava na cozinha até o jantar acabar e só depois é que desfardava e ia falar com os clientes, para saber como tinha corrido. Tenho saudades desses tempos, porque foram eventos que fizemos para empresas muito conceituadas. Pode ser que, um dia, eu volte a ter um espaço, talvez com o meu filho Francisco, que está a virar-se para a hotelaria. Quem sabe…

Texto: Helena Magna Costa; Fotos: DR

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