Castelo Branco
“Estou sempre a renascer das cinzas”

Famosos

Prestes a regressar à televisão com um programa ao seu estilo, o “conde” assume que vive dentro de um “ boneco” criado por si
José Castelo Branco. Polémico e irreverente, ainda está na memória de todos a sua recente presença no programa Perdidos na Tribo. Afinal, ele próprio é um homem de polémicas e não tem vergonha de o admitir.

Sáb, 27/08/2011 - 23:00

José Castelo Branco. Polémico e irreverente,  ainda está na memória de todos a sua recente presença no programa Perdidos na Tribo. Afinal, ele próprio é um homem de polémicas e não tem vergonha de o admitir. Sem pudores, e dono da palavra, Castelo Branco, que diz ter 45 anos, recorda à VIP as várias  fases da sua vida. Desde os tempos em que viveu confuso com a sua sexualidade, ao casamento com a mãe do seu filho Guilherme, e até o relacionamento com este. Feliz ao lado de Betty Grafstein, com quem celebra em Setembro 18 anos de união, Castelo Branco continua a afirmar que não é homossexual, fala da sua sexualidade e de como é a sua nova vida, entregue à meditação e à espiritualidade.
 
VIP – Vai regressar em breve à televisão? Como vai ser o seu programa?
José Castelo Branco – Vai ser uma coisa muito ao meu estilo. Sou um camaleão. Toda a gente espera que eu seja uma caixa de Pandora, que se vai abrindo, e que vai retirando aquela peça e aquela seda e aquele bicho e aquela bicha. Sou uma caixinha de surpresas.
 
 Onde é que vai buscar toda essa inspiração?
Tudo faz parte do meu ser. É intrínseco à minha pessoa. Muitos querem ser assim, mas nem todos podem. Tenho um dom que Deus me deu, sinto isso. Tenho um dom para estar sempre a renovar-me a criar coisas novas. Um artista, que é o meu caso, quando não tem nada de novo para oferecer é porque estagnou. Isso a mim não me acontece. Ainda não estou em tempo de reforma.
 
É também um actor, ou apenas um artista?
Sou tudo ao mesmo tempo e sou muito mais. Sou um boneco criado. Sou um artista, um actor. Sou um marchand, um maquilhador e um decorador. Eu pinto, eu bordo.
 
O que é nunca poderia ser ou fazer?
Sou tudo e faço tudo. Tudo se enquadra a mim. O Zé Castelo Branco é um personagem que sabe ser uma repetição da Anita. A Anita foi um livro da minha inspiração quando eu era garoto. Ficava fascinado com aquelas histórias. Anita vai às compras; Anita conduz; Anita até poderia ir à tropa, mas nunca inventaram essa (risos). Estou sempre a recriar-me, a nascer de novo das cinzas.
 
É desta forma que alimenta o seu ser polémico?
Eu sou um provocateur naturel (provocador natural), tenho noção disso e gosto disso. As pessoas ou me adoram ou me odeiam de morte. Não sou indiferente a ninguém.
 
Preocupa-o que o odeiem?
Não me preocupa nada. As pessoas que nutrem um sentimento de ódio por mim não me conhecem. Aquelas que me adoram, só adoram porque me conhecem verdadeiramente.
 
Nunca se interessou que o conhecessem verdadeiramente?
Dou abertura para que as pessoas se aproximem de mim. Sou uma pessoa transparente e talvez por isso é que não gostam de mim. Não tenho cartas na manga. Sou o que sou, sou o José. O José que você conhece melhor é o José que todos conhecem melhor e que sabem quem é o José. Há quem julgue, mas "os cães ladram e a caravana passa".
 
Identifica-se com a Anita, um livro de meninas…
Sempre fui fascinado pelo mundo das mulheres. Daí as pessoas perguntarem: “és tão feminino, calças saltos altos, pões rímel nas pestanas. E não és gay?”. Não sou gay, sou uma lésbica. Eu gosto de gajas.
 
Como é a sua sexualidade?
Sinto desejo carnal como qualquer homem sente, mas sei resfriar este desejo quando a minha Betty não está ao pé de mim. Tenho um desejo muito forte, mas consigo controlá-lo. Entrego-me à meditação e sinto uma serenidade interior tão grande que não há dinheiro nenhum, não há riqueza oferecida que possa igualar o prazer de poder beber das verdadeiras águas da vida, as águas espirituais.
 
Como foi modificando esse sentimento?
Através da minha evolução espiritual, que marca muito a minha vida. Podemos ser casados, podemos ter uma vida sexual activa, mas isso não impede de termos as nossas temporadas de pura abstinência. Porém, isto não quer dizer que quando a Betty chegar, não sintamos um forte desejo de nos envolvermos.
 
Esta mudança aconteceu desde que está casado com a Betty?
Sempre pratiquei a minha espiritualidade. Quando comecei o relacionamento com a mãe do meu filho não tinha ainda 18 anos e já praticava esta espiritualidade.
 
A mãe do Guilherme é uma pessoa presente na sua vida?
Completamente. Na altura da nossa separação fiquei muito magoado, mas hoje damo-nos lindamente. Bem como com o marido dela. Ele foi o padrasto ideal para o meu filho, deu todo o equilíbrio ao Guilherme na educação e no crescimento dele.
 
Este entendimento ajudou na sua relação com o seu filho?
Penso que sim. No início tivemos algumas guerrinhas próprias dos casais divorciados. Eram outros tempos, outras idades, tudo já passou. Quando há uma separação, o pai deixa de ter o controlo das coisas, porque os filhos ficam sempre entregues à mãe. Não tenho razão de queixa. A Maria Arlene foi e é uma excelente mãe para o Guilherme.
 
Como é a sua relação com o Guilherme?
Muito boa. Anda com a mania dos piercings, não gosto nada, não sei como é que beija as namoradas com aquilo. Mas eu deixo-o em paz. Ele não implica com os meus saltos altos, eu não posso implicar com o brinco dele. O Guilherme tem uma cabeça fantástica.
 
Contudo, já disse que não é fácil ter um pai como o Zé. Porquê?
Não é fácil, reconheço isso. O Guilherme é um rapaz muito discreto e tem um amor incondicional por mim. Na adolescência teve alguns problemas por causa de ter um pai como eu. Nessa altura, a Betty alertou-me para o facto de poder ser difícil a relação futura entre mim e o meu filho.
 
Como lidou com a situação?
Sempre tivemos uma grande abertura e temos uma relação pautada pela honestidade. Tive uma grande conversa com ele, quis que ele me percebesse, me conhecesse. Contei-lhe que nasci com tendências efeminadas, que fui abusado sexualmente durante a infância; expliquei-lhe que fui vaiado no meu colégio, que não me percebiam e me tratavam mal. Nunca fui protegido. Contei-lhe também da minha paixoneta por um estivador, quando tinha 16 anos e que no dia em que íamos chegar a vias de factos, fugi.
 
Foi nesta altura que nasceu a Tatiana Romanov, o seu alter-ego?
Exactamente. A Tatiana nasceu porque, como manequim, eu tinha muito mais hipóteses de me defender e não ser conotado de bicha na rua. Depois conheci a mãe do Guilherme e percebi que sou um homem como outro qualquer, só que me sentia bem num papel de mulher.
 
Partilhava estas emoções com a sua mãe?
Não tínhamos essa abertura. A minha relação com a minha mãe é próxima, mas sempre com muita cerimónia.
 
Como acha que o seu pai iria encarar a sua evolução, se estivesse vivo?
Hoje consigo ter mais consideração por ele do que quando o tive ao meu lado. Ele sempre olhou para mim com muita dignidade. Era muito bem formado, viu-me de saias e nunca disse nada. Poderia chorar na intimidade, mas à minha frente não se desmanchava.
 
Sentia que o magoava?
Acredito que sim. A minha mãe fazia-me sentir que sim.
 
Está prestes a completar 18 anos de união com a Betty, mas têm vivido separados. Como é o vosso relacionamento?
É uma vida um bocadinho complicada. Falamos duas vezes ao dia, de manhã e à noite, antes de eu adormecer. Por vezes já adormeci e ela fica do outro lado a ouvir-me dormir. Falamos do nosso dia-a-dia, contamos tudo o que se passou e o que não se passou. Neste momento estou a redecorar o pátio de nossa casa para a festa do nosso aniversário e ainda não sei se ela vai aprovar, temos falado muito nisso. Estou ansioso com esta celebração. O nosso amor vai atingir a maioridade.
 
Lida mal com o envelhecimento?
Não lido mal, luto conta isso (risos). Tenho pavor de envelhecer. Não faço pactos com o diabo, faço pactos com o cirurgião plástico. Agora estou ansioso para começar a levar oxigénio e levar transfusões de sangue, mas já disse que quero sangue virgem, para renascer que nem Fénix.
 
A morte preocupa-o?
De todo. Não me preocupa morrer velho, mas sim viver o presente. Vou acabar os meus dias em pura meditação. Sinto necessidade de caminhar cada vez mais para Aquele que me criou. Tenho a certeza de que quando morrer, vou morrer "em bom".
 
Texto: Micaela Neves; Produção e fotos: Abel Dias

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