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“Este cargo é uma homenagem ao meu avô”

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PASCAL TEIXEIRA DA SILVA, o primeiro embaixador de França com raízes lusas, recebeu a VIP
É o primeiro embaixador de França em Portugal com ascendência portuguesa. António Teixeira, lenhador em Castelo de Paiva, partiu para França nos anos 20. A ele juntaram-se, anos mais tarde, a mulher e o filho de seis anos. O neto, Pascal Teixeira da Silva, nasceu em 1957 e é, desde Setembro, o representante máximo do governo francês em Portugal.

Sex, 11/03/2011 - 0:00

 É o primeiro embaixador de França em Portugal com ascendência portuguesa. António Teixeira, lenhador em Castelo de Paiva, partiu para França nos anos 20. A ele juntaram-se, anos mais tarde, a mulher e o filho de seis anos. O neto,Pascal Teixeira da Silva, nasceu em 1957 e é, desde Setembro, o representante máximo do governo francês em Portugal. Formado pela Escola Nacional de Administração, berço da elite política francesa, Pascal Teixeira da Silva recebeu a VIP com a mulher, Pascale Teixeira da Silva, na sua residência oficial, o Palácio de Santos.

Na embaixada de França, um belíssimo edifício adquirido pelo governo francês em 1909, sente-se em casa, apesar da longa carreira diplomática o ter levado a diversas partes do Mundo, que se torna mais pequeno à medida que, em cada posto, vão reencontrando rostos conhecidos.

VIP – Antes de mais, qual é o balanço que fazem dos primeiros meses em Portugal?
Pascal – Muito positivo. Acho que tenho muita sorte por estar aqui. Pela minha ascendência portuguesa, esta nomeação é uma espécie de regresso às origens, uma homenagem póstuma ao meu avô, que foi para França há mais de 80 anos. E depois porque há laços humanos e culturais muito fortes entre França e Portugal.
Pascale – Estes cinco meses passaram muito rápido. É um país muito próximo de França do ponto de vista cultural e a francofonia que existe em Portugal torna a adaptação muito fácil, é comovente.

Sentiu que este lugar lhe pertencia, de alguma forma?
Pascal – A embaixada é um símbolo e o embaixador é de alguma forma o curador deste palácio. Espero que o nosso país consiga preservá-lo, apesar dos constrangimentos orçamentais. Era com certeza um sonho de carreira vir parar aqui um dia, pela minha história pessoal. Mas na carreira diplomática é difícil de prever, porque é uma decisão que é tomada pelo Presidente da República, mas foi com grande felicidade e surpresa que recebi a minha nomeação.

As raízes portuguesas estavam muito presentes na sua vida? Sei que só aprendeu a falar português aos 19 anos…
Pascal – Estavam presentes porque passámos férias em Portugal em diversas ocasiões. Mas o meu pai voltou a aprender a língua portuguesa, que esquecera porque foi para França muito jovem, aos 19 anos, e eu também. Não sou bilingue, porque a minha mãe é francesa, mas o facto de ter uma componente da minha identidade em Portugal foi razão suficiente para querer conhecer a língua.

E tenta partilhar isso com a sua mulher, os seus filhos?
Pascal – Claro. Aqui em Portugal é muito fácil, a minha mulher está a aprender português, mas há uma espécie de desincentivo, por encontrarmos tantas pessoas que falam francês maravilhosamente. Os meus dois filhos também estão a aprender. O mais novo tem 16 anos e está connosco em Lisboa. O mais velho, que é estudante universitário em França, quis aprender voluntariamente. Não só por razões familiares, mas porque a aprendizagem de uma língua é sempre um enriquecimento e uma mais-valia. Obviamente fico muito feliz por ter conseguido preservar, ao longo de quatro gerações, esta relação especial com Portugal.

Já passou por Nova Iorque, por Moscovo, entre muitos outros postos. É fácil levar a família atrás da sua profissão?
Pascal – Não é fácil porque não é só uma mudança de função, é uma mudança de vida e de ambiente geral. Tem de se voltar a criar uma rede de amigos em cada local. No início é um choque, mas creio que é uma enorme fonte de enriquecimento para conhecer outras gentes e para olhar de forma mais crítica para nós próprios, para o nosso modo de vida, para evitar o "umbiguismo" que muitas vezes caracteriza o ser humano. Claro que do ponto de vista pessoal não é fácil, no que diz respeito aos problemas escolares, e ao cônjuge, principalmente quando este também tem uma carreira. Mas isso não é uma questão específica dos diplomatas.

Foi fácil decidir que acompanharia a carreira do seu marido, onde quer que fosse?
Pascale – Era a profissão dos meus pais, e foi a carreira que eu segui, academicamente, considerando que é a melhor profissão do mundo. É óptimo quando se tem a sorte de estar em Portugal, mas sou muito activa na associação de cônjuges de agentes do Ministério dos Negócios Estrangeiros e constatamos que o problema do trabalho do cônjuge, da reforma do cônjuge, da adaptação dos filhos, do calendário escolar, nem sempre tido em conta, fazem com que a vida de expatriado seja um projecto que tem necessariamente de ser preparado a dois. Há muitas situações de famílias separadas, porque nem sempre o cônjuge pode ir atrás. O próprio regresso a França entre dois postos de trabalho é difícil. Fiz a escolha de seguir o meu marido há 28 anos, depois de me ter formado em Ciências Políticas e de ter trabalhado durante dois anos e meio. Nós tivemos a sorte de estar em locais que estavam a atravessar momentos muito importantes do ponto de vista histórico. Estivemos na Alemanha na queda do muro de Berlim e na Rússia no desmembramento da URSS… tivemos muita sorte, traz um enriquecimento enorme.

Aos filhos também?
Pascale – Sim, fizemos questão de os levar connosco sempre que foi possível. Fizemos com os nossos filhos menos postos do que eu fiz com os meus pais, mas tentámos sempre porque é uma forma única de descobrir uma cultura. Não foi fácil levar o nosso filho bebé para Moscovo há 20 anos, mas valeu a pena.

O que é que trouxe para Portugal, para além do cravo, que o acompanha sempre?
Pascal – Temos a sorte de encontrar um local perfeitamente adaptado para nos receber, mas claro que trouxemos alguns objectos pessoais para reconstituir um ambiente familiar.

Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem: Ana Coelho, com produtos Maybelline e L´Oréal Professionnel

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