Isabel Silveira Godinho
“Em vez de ser um emprego, isto é uma paixão”

Famosos

Jurada há cinco anos do concurso Joias VIP/Museu da Presidência do República, fala com orgulho do seu trabalho como diretora do Palácio Nacional da Ajuda, cargo que desempenha há mais de 30 anos. A diretora do Palácio Nacional da Ajuda recebeu a VIP naquela que considera ser já a sua casa.

Sex, 27/01/2012 - 0:00

 A diretora do Palácio Nacional da Ajuda recebeu a VIP naquela que considera ser já a sua casa. Uma conversa inspirada pelas salas e corredores daquele espaço, onde a Cultura e História do nosso país se fundem. Tão perseverante quanto apaixonada, Isabel Silveira Godinho contou com orgulho que a exposição agora ali patente – 25 Anos de Aquisições e Doações – foi feita por um valor muito inferior ao que seria de esperar numa mostra de qualidade.

Esta exposição foi possível porque houve meia dúzia de pessoas que resolveu ajudar de uma maneira extraordinária… Foi realizada com 7200 euros, o que é um feito”, revelou satisfeita, mostrando-se orgulhosa com o resultado: “É a exposição da minha vida e foi tudo, tudo, escolhido e comprado por mim.

Conservadora de museu de formação, explicou que o Palácio Nacional apareceu há mais de 30 anos na sua vida, quase de forma imposta. “Cruzou-se – ou puseram-mo – no caminho através de um concurso ao qual me obrigaram a concorrer, porque não queria. Mas tinha o curso e ganhei precisamente por isso”, recordou, afirmando que longe vão os tempos em que se perdia nos corredores do palácio, que hoje trata por “tu” e percorre com um grande à-vontade. Conhece cada peça, cada quadro e cada canto como se da sua própria casa se tratasse. “Ao início foi um pouco complicado, porque estava mais envolvida com o século XVIII e o apogeu das artes decorativas em Portugal. O primeiro ano foi como que uma habituação visual, uma aprendizagem lenta. Por ser lenta e gradual, foi muito interiorizada e por isso mesmo mexeu muito comigo. Hoje, sinto-me completamente à vontade. Estes ambientes têm uma beleza extraordinária e o trabalho que a partir de 1862 foi feito por D. Luís e pela rainha Maria Pia quase criaram o apogeu de artes decorativas porque viajavam muito e pelos melhores sítios. Portanto, o melhor está aqui e temos coleções de tudo. Daí haver uma enorme variedade de pistas, uma tal variedade de estudo, que é de tal maneira interessante, que em vez de ser um emprego é uma paixão.”

É em nome dessa paixão que “vira o mundo” quando tem conhecimento de que uma determinada peça vai a leilão ou quando se faz uma descoberta ínfima – mas fundamental. “Estávamos a fazer a reconstituição histórica do antigo gabinete d’El Rei e sabíamos que a sala era forrada a papel, mas só nos apareceu um bocadinho, do tamanho de uma unha. A juntar a uma aguarela do Henrique Casanova – que mostra os aposentos e as salas do palácio tal como eram no tempo de D. Luís – já era mais uma pista. Liguei para a minha amiga que trabalha no departamento do papel pintado no Museu das Artes Decorativas e no dia seguinte foi logo uma pessoa de avião para Paris. Porque há coisas que o interesse é tal que não podem esperar.” Alguns anos e muitíssimas horas de investigação depois, o gabinete d’El Rei D. Luís estava recriado e pronto para ser visitado.
Agora que a exposição da sua vida já pode ser vista, Isabel Silveira Godinho diz já ter o guião para uma próxima, desta feita tenciona fazer uma instalação com a evolução do móvel de assento – cadeiras – da casa real.

A par da sua paixão pela História – nomeadamente pela de D. Maria Pia – a diretora do Palácio Nacional da Ajuda é uma acérrima defensora dos novos talentos. Nesse âmbito é, desde há cinco anos, júri do concurso Joias VIP, que este ano, em parceria com o Museu da Presidência da República, dedica o tema a Portugal aos seus símbolos. “É uma iniciativa extraordinária, porque todos os artistas contemporâneos precisam de apoio, de público. É um papel da VIP muito importante, porque valoriza os nossos artistas”, avançou, aproveitando para destacar símbolos lusos: “Como é que se vende Portugal lá fora? Como é que se vendia há 30 ou 40 anos? Os símbolos são de um Portugal em movimento, porque recebem os influências de todo o lado. Somos uma melting pot de gente que nunca mais acaba, mas se me perguntasse hoje o que acho que Portugal é, eu diria: uma evolução.”

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Paulo Lopes; Maquilhagem e cabelo: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel; Produção: Manuel Medeiro

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