Carla Salgueiro
“É preciso ser forte para as fases em que não há trabalho”

Famosos

Disposta a seguir outros caminhos, a atriz confessa que tem muita vontade de ser apresentadora

Dom, 26/02/2012 - 0:00

 Com quase duas décadas de carreira em televisão, a atriz não esconde o desejo de voltar à apresentação e deixa um desafio a quem faz os castings em Portugal: que a escolham sem ser pelo aspecto físico e que a desconstruam. Aos 37 anos, Carla Salgueiro revela-se uma mulher mais madura. No campo pessoal, apesar de solteira, Carla Salgueiro assume a vontade de ser mãe.

VIP – Recentemente esteve a gravar o telefilme Noiva Procura-se e a curta-metragem (In)Sanidade…
Carla Salgueiro – É verdade. Correu tudo muito bem e gostei bastante das experiências. O telefilme era uma comédia romântica com um elenco bom e um texto bem escrito. Tinha a dificuldade acrescida de fazer uma americana, ou seja, além de trabalhar o meu papel também tive de me concentrar no sotaque (risos). Na curta-metragem tive uma pequena participação e a minha personagem era a chave final da história. Foi interessante participar neste projeto.

À parte disto tem em mãos uma personagem nos Morangos com Açúcar…
É diferente de tudo o que já fiz. É uma mulher enigmática, muito forte, que ao início nem se percebe muito bem quem é aquela pessoa. Aparece para chantagear um professor e deixa-nos a pensar quem será. Está a ser uma experiência engraçada e está a ser bom trabalhar com o elenco sénior.

Está inserida num projeto composto por jovens. Como a abordam?
Por nos vermos várias vezes, ultrapassámos aquela barreira de não nos conhecermos. Confesso que até fiquei bastante surpreendida com o elenco mais jovem. São trabalhadores e há pessoas com talento.

Isso desmistifica a ideia que muitos jovens tentam a sua sorte nos Morangos apenas em busca de fama.
Muitos jovens têm formação. Acho que quando há um casting deste género em que concorrem muitas pessoas, só não escolhem pessoas boas se não quiserem. Tenho gostado deste elenco. Acho graça porque costumo vê-los nos corredores a estudar.

Já tem mais algum projeto?
Para já estou neste. Depois, logo se vê.

Apesar de nova, tem noção de que já faz televisão há 19 anos?
Pois… É incrível, não é? (Risos). Entrei na primeira novela da TVI. Tenho acompanhado o aparecimento de algumas pessoas e o desaparecimento de outras. Assisti a uma evolução do meio audiovisual. Acho que já posso dizer que tenho uma carreira (risos).

Assistiu a essas entradas e saídas de pessoas, mas a Carla mantém-se…
Estes quase 20 anos fazem-me ver várias fases da minha carreira com algum distanciamento. Já me apercebi que é normal ter menos trabalho em determinadas alturas, ainda que isto seja complicado para um ator. Este tipo de experiência faz-me desmitificar a questão e pensar que é apenas uma fase.

E como é que lida com essas alturas?
É muito complicado e temos de ser fortes e perseverantes. Nessas fases devemos fazer coisas que gostamos. Houve alturas em que me apercebi que não ia ter trabalho e fiz formação. Mas não é fácil. É preciso uma estrutura emocional forte. Mas muitas vezes estas coisas acabam por nos tornar mais fortes.

Nesses momentos, teme-se cair no esquecimento?
Não. Como o País e o mercado são pequenos sinto vontade de arranjar algo à parte. Uma ocupação que possa ser desenvolvida nessas alturas. Por outro lado, até faz bem desaparecer de vez em quando senão as pessoas cansam-se. Mas para que exista um equilíbrio emocional e até financeiro às tantas dá vontade de ter outra profissão.

Se voltasse atrás, mudava algo?
Não. Faço essa análise no presente. Quando faço algo penso que podia ter corrido melhor, por exemplo. Há uma ou outra coisa que se fosse hoje, e sabendo o resultado final, talvez não tivesse feito. Mas na altura não sabemos que depois vamos ter esta opinião. Permitir errar faz parte do processo da vida para mais tarde não repetir essas escolhas.

O que mudou em si ao longo destas quase duas décadas?
Sinto-me muito mais madura, mais segura. Se soubesse o que sei hoje quando comecei teria tido outro desempenho pela minha formação e experiência pessoal. As vivências pessoais que vamos tendo ao longo da vida são fundamentais. A análise de uma cena, quando se tem uma maior experiência de vida, acaba por ser mais profunda.

Quase 20 anos depois do início e passando por tantas personagens e caracterização, nunca se baralhou quando se olha ao espelho?
Não tenho essas dúvidas existenciais (risos). Se estiver a trabalhar um texto dramático para teatro exploramos um género específico de emoções. Se calhar, durante esse tempo sentimos essa emoções. Daí a confundir-me com a personagem, não. Isso não me acontece.

Como gostaria que fossem as próximas duas décadas de carreira?
Se conseguisse prever era muito aborrecido. Acredito que ainda me vou surpreender muito comigo e com o que a vida tem para me oferecer. Uma das coisas boas da instabilidade desta profissão é a surpresa. Às vezes o telefone toca e muda tudo.

Mas o que gostava de fazer?
Tenho saudades da apresentação. Apresentei o Clube Disney e mais tarde fiz o Curto Circuito. Tenho algumas saudades e acho que tenho outras coisas para dar nesta altura. Sou mais mulher e tenho muita curiosidade em voltar a ver-me neste registo.

Em que tipo de programa?
Gostava que fosse algo relacionado com o meio artístico, com cinema ou música, que é algo que me diz muito. É algo que gostaria de voltar a fazer, mas que não sei se será em breve ou mais tarde.

E na representação, que tipo de personagem gostava de fazer?
Gostava que as pessoas que nos escolhem pensassem em nós como uma paleta com muitas cores. Quando nos veem a pintar bem uma cor, que tenham a noção que não sabemos pintar só aquela cor. O interessante é desconstruir essa cor e criar outras. Gostava disso. Gostava que me propusessem personagens fora do padrão normal que me costumam dar. Gostava que me desconstruíssem de alguma forma.

Ao longo da carreira sentiu a necessidade de mostrar que era mais do que uma mulher bonita?
Hoje em dia a beleza é banal. Ainda assim, quando digo que gostava que me desconstruíssem, era que me escolhessem para um personagem sem pensarem apenas no aspecto físico. Somos mais do que isso.

Tem muitos cuidados com a imagem?
Tenho alguns. Faço por cuidar de mim por uma questão de saúde. Gostava de viver muitos anos com qualidade de vida. Gosto de acordar e de sentir bem com o que vejo ao espelho. É uma coisa que vem de dentro para fora e não apenas no exterior.

É vaidosa?
Tenho os meus dias, mas gosto de me cuidar. Se estiver num dia em que esteja mais em baixo até me arranjo mais.

Ainda mantém o desejo de ser mãe?
Sim, gostava. Mas não é algo em que pense muito.

A sua profissão vive da imagem. Isso poderá levá-la a adiar esse desejo?
Não. Se calhar já me levou a adiar a responsabilidade que é trazer a este mundo uma nova vida. Quando tiver de acontecer, acontece.

Pensa da mesma forma em relação ao casamento?
Sinto que já fui casada sem assinar papéis. Assinar um papel não é importante para mim. Partilhar a vida com alguém e estar em sintonia é algo que gostaria para a minha vida. Enquanto isso não acontece vou aproveitando outras coisas.

Em relação ao resto da sua vida, também pensa “quando acontecer, acontece”?
Não. Tento potenciar no presente coisas que gostava de ver no meu futuro. Tento fazer isso diariamente. Mas são coisas que estão ao meu alcance e que posso potenciar.

Tem algum sonho que gostasse de realizar num futuro próximo?
Tenho imensos sonhos. Sinto vontade de ir para fora, fazer formação, é algo que gosto. Quando saio daqui tenho uma perspetiva diferente do meio e do País. Quando volto sinto que cresci.

Texto: Bruno Seruca; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L´Oréal Professionnel

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