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“É óptimo ter alguém que nos convence que somos capazes de tudo”, diz LUÍSA CASTEL-BRANCO

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A escritora lança “Para Ti”, uma obra intimista só possível devido ao apoio de FRANCISCO
Sempre que pode foge para escrever. “Ando sempre com uma caneta e um bloco no bolso”, diz Luísa Castel-Branco, que agora lança Para Ti, o seu quinto livro

Seg, 20/12/2010 - 0:00

 Sempre que pode foge para escrever. "Ando sempre com uma caneta e um bloco no bolso", diz Luísa Castel-Branco, que agora lança Para Ti, o seu quinto livro. Uma obra intimista, onde se expõe sem medos, como nunca fez. Aqui, assume­–se como feminista, de direita "mas com alguns complexos de esquerda", protectora feroz da sua vida privada, apaixonada pela vida e pela família, com medo da morte e crente, mas no seu próprio Deus. Numa entrevista emotiva, contou-nos que o maior sonho é estar com a família.

VIP – Este é o livro mais intimista da Luísa, onde se mostra sem reservas?
Luísa Castel-Branco – Tem a ver com a fase de vida em que estou e com a idade. Com 56 anos, sinto que já vivi tempo emprestado, que podia já cá não estar e que já passei mais de metade da minha vida. Estava numa fase de viragem. Sinto que me encontrei, finalmente. Deixei de pedir desculpa por ser quem sou, por ser diferente. Sempre me senti anormal.

Porquê?
Tenho uma imagem que não tem nada a ver comigo. Lembro-me que quando comecei em televisão era a “tia”, muito antes de haver outras “tias”. Eu tenho muitos sobrinhos, mas a ideia não era essa. Certamente não corresponde à conta bancária. Já perguntei aos meus filhos o que era isso de ter ar de “tia” e eles disseram-me: “A mãe até de calças de ganga tem ar de 'tia'.” Trabalhei muito para educar os meus filhos, para lhes pagar os sonhos; odeio conversas fúteis. Nunca em minha casa eu e os meus filhos conversámos sobre terceiros.

Quem ler esta obra tem a garantia de conhecer a fundo a Luísa?
Pelo menos, a forma como olho a vida. As pessoas dizem normalmente que sou uma pessoa muito alegre. Não sou. Sou muito mais introspectiva do que pareço, muito mais triste.

Dedica o livro ao neto Simão, nascido há um mês, com a certeza de que quando ele ler a obra já cá não vai estar…
Este livro não é para uma criança ler. O Simão vai lê-lo quando for adolescente e nessa altura já cá não hei-de estar. Acho que os meus três filhos vão guardar este livro para um dia mostrarem aos netos.

Há um texto em que fala da educação dos seus filhos. Acredita que eles vão conseguir educar os netos da mesma forma?
Espero que eles sejam ensinados a questionar tudo. Posso dizer isso com conhecimento de causa porque o meu filho Gonçalo está a educar a minha neta Inês exactamente como eu o eduquei. E isso dá-me uma grande alegria porque significa que, entre muitos erros, alguma coisa boa fiz.

Como é que é a Luísa enquanto avó? É diferente de quando era mãe?
Sou tão exigente como avó, como era enquanto mãe. Detesto crianças mal-educadas, mimadas. Como não tomo conta permanente da minha neta, quando estou com ela quero ter tempo de qualidade.

E em relação ao Simão: ele ainda não tem dois meses. A Inês [Castel-Branco] pede-lhe ajuda?
Não, é muito independente. Aliás, os meus filhos são todos muito independentes. Babo–me completamente, sou capaz de estar horas a olhar para o Simão e fico maravilhada. É lindo.

Sai à vossa família ou ao lado do pai?
Não vou falar sobre isso.

A Inês é muito parecida consigo, não é?
Muito parecida, mesmo.

Protegem ambas muito a vida privada…
Zelo muito a minha privacidade. Aconteceu o mesmo agora quando a minha filha teve o meu neto. Houve reacções sobre o facto de a Inês ter optado por não mostrar o Simão à saída da maternidade. Parece que nós somos a contra-corrente. Mas as outras pessoas têm tanto direito de o fazer como eu tenho de dizer que a minha vida privada é só minha.

Mas hoje posou com o Francisco…
Estas fotografias são as primeiras que tirámos juntos em nove anos. Hoje apanhei-o à "má fila", porque caí no Verão com uma das minhas cadelas e ele, com medo que eu voltasse a cair e partisse mais uma costela, aceitou posar comigo.

Nota-se que são um casal muito apaixonado.
É óptimo ter alguém ao nosso lado que nos convence que somos capazes de tudo. É essa a nossa noção de amor e companheirismo. Estou com o Francisco há 15 anos e até aí tudo o que eu escrevia ia para o lixo. Agora, ele é o fiel depositário de tudo o que escrevo.

Tem um texto sobre o Francisco neste livro. Como descobriu que é ao lado dele que quer envelhecer?
O momento em que estava no hospital, tinha tido o AVC, estava ligada às máquinas e não conseguia focar nada. Tudo tremia. Dei por mim a chorar e, às 7h30 da manhã, ele entrou no quarto. Tinha lá estado a noite toda. Olhei para ele e soube.

Tem medo da morte?
Medo da morte, medo de ficar numa cadeira de rodas, medo de não ver crescer os meus filhos, nem conhecer os meus netos. Na altura não achei que fosse morrer porque o meu filho Gonçalo estava no Estados Unidos e não acreditava que Deus me levasse sem me despedir dos meus filhos.

Acredita em Deus?
Acredito que há uma força superior, acredito no meu Deus.

Quando se passa por um momento destes como é que se continua a viver?
Pensando que há coisas que ainda se quer dizer, que há coisas desnecessárias… Não posso dizer que repensei a vida e decidi mudar. Efectivamente mudei, porque todos os dias acordo e as sequelas do AVC não me deixam esquecer que o vivi. Portanto, quando tenho um dia em que estou mais em baixo lembro-me que podia estar bem pior e que tenho é de agradecer por ainda estar cá.

Gostava de voltar à televisão?
Tenho saudades de fazer conversa em televisão, mas duvido que mais alguma vez o faça. Eu gosto de talk-shows. Agora só poderia fazer concursos e isso detesto.

Não gostou de fazer o Elo Mais Fraco?
Odiei! Era fisicamente demolidor, estava 14 horas em pé a gravar. Também fiz o Dinheiro à Vista, produzido pela Teresa Guilherme. Uma senhora chorou à minha frente depois de ter errado uma pergunta, porque precisava do dinheiro. Não sei lidar com isso.

Ter feito televisão abriu-lhe várias portas. Como começou na TV?
Precisava de trabalhar e fui bater à porta do CNL, ver se precisavam de alguém. Disseram-me que não porque eu era demasiado qualificada. Porém, os americanos quiseram alguém que tivesse bons contactos e eu tinha tido uma agência de marketing político e tinha feito assessoria ministerial. Mais tarde, o presidente da TV Cabo convidou-me para fazer um programa. Eu era gaga, disléxica, a minha imagem não era nada de especial… Havia inúmeras razões para não o fazer. Ele achou o contrário.

Porque é que seguiu marketing político?
Fiz todo o tipo de marketing na agência de comunicação. Acabei por ir parar a um ministério antes da primeira maioria do Professor Cavaco Silva. Adoro política.

Qual é a sua ideologia?
As pessoas definem-me sempre como de direita. O José Manuel Fernandes, um grande amigo meu, disse-me uma vez que eu era a pessoa de direita com mais complexos de esquerda que ele conhecia.

Nunca pensou fazer política? Ser presidente de uma câmara ou de uma junta?
Convidaram-me para me candidatar a uma câmara – não vou dizer qual. Disse que "não" na altura e hoje voltaria a dizer o mesmo. Tenho claustrofobia, não posso ficar muito tempo fechada no mesmo sítio. Embora o poder autárquico seja fascinante.

Já que gosta de política o que está a achar deste governo?
Sinto-me enganada. Estamos perante um buraco inacreditável que foi consecutivamente negado e escondido aos portugueses. Acho que há uma crise global que nos vai fazer repensar o nosso estilo de vida.

É amiga de Pedro Passos Coelho. Acha que ele é a esperança de Portugal?
Sou amiga dele há mais de 20 anos e tenho grandes expectativas e esperanças. Gostava que ele reconstruísse o sistema de educação.

Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: Rui Costa; Produção: Zita Lopes; Cabelos e Maquilhagem: Tita Costa, com Produtos Maybelline e L´Oréal Professionnel; Agradecimentos: Choupana Gordinni;

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