Cristina Santos Silva
Cumplicidade com as filhas

Famosos

A arquiteta fala da relação que tem com Mariana e Rita e dos 30 anos de carreira

Qui, 17/10/2013 - 23:00

No ano em que completa três décadas de carreira, a arquiteta Cristina Santos e Silva foi distinguida com o prémio Best Hotel Interior for Portugal 2013, atribuído pelo International Hotel Awards, com o projeto de interiores do Hotel Altis Avenida. O Onyria Marinha Edition Hotel & Thalasso, cujo design de interiores ficou à sua responsabilidade, também foi galardoado pelos utilizadores do TripAdvisor como o terceiro melhor hotel do Mundo.

A arquiteta fala da relação cúmplice com as filhas, Mariana, de 19 anos, e Rita, de 22, e da vontade desta em ir estagiar para Macau, local onde Cristina Santos e Silva viveu durante oito anos, quando trabalhava como assessora no Gabinete de Património Cultural da região. Retrato na primeira pessoa de uma arquiteta que já recebeu um prémio de elegância da revista VIP.

VIP – Fale­-me do desafio de ter criado três peças (copo de vinho do Porto em cristal e prata, um decanter e um tabuleiro) para a Topázio.
Cristina Santos e Silva – Gosto imenso de desenhar mobiliário e equipamento. Para além da minha formação em arquitetura, tenho vindo profissionalmente a conjugar o design de interiores e gráfico, mas tenho­-o feito para usufruto dos meus projetos. Nunca tinha acontecido desenhar uma peça que não tivesse o cliente final determinado. Deu­-me um enorme prazer, porque associámos a tradição e a linguagem clássica da Topázio com uma imagem moderna e atual, que traduz a minha linha de pensamento.

Este serviço reflete a sua arte de bem receber em casa?
Sim. Ainda por cima, gosto imenso de tudo quanto seja relacionado com decoração de mesas e jantares temáticos. Juntei o útil ao agradável e, obviamente, vou ter de entrar em despesas e comprar o serviço, porque acho que o vou usar mesmo nas minhas decorações.

Confundem­-na muitas vezes com decoradora de interiores, mas é formada em Arquitetura. No início chateava­-a um bocadinho?
As coisas estão interligadas. Não era pretensiosismo da minha parte, mas, no fundo, na arquitetura tínhamos uma maneira de ver a profissão e aquilo que executávamos, talvez, um bocadinho viciados pelos professores e pelo espírito da faculdade – na altura, era a Escola Superior de Belas Artes, que era um mundo um bocadinho especial. E, se calhar, interiorizámos isso e realmente, para nós, a decoração era qualquer coisa que aparecia, talvez, um pouco supérflua. Mas a minha realidade e a minha vida têm vindo a provar que as coisas estão interligadas, e ao longo da história da arquitetura isso sempre aconteceu. Em Gaudí, a arquitetura, o interior e o elemento decorativo juntam­-se, logo, é impossível separar a obra dele. Não tem lógica pensar em mundos diferentes, é uma simbiose perfeita.

Até tem uma loja de decoração.
Exatamente. Depois de vir de Macau, comecei a perceber que essa realidade era muito mais do quotidiano do que aquilo que eu imaginava.

Macau ainda a inspira nos seus projetos?
Nós, seres humanos, somos inspirados por tudo. Obviamente, quando vivemos muito tempo num sítio, vamos ser mais inspirados. O Oriente é uma marca muito forte. Eu bebi muito do espírito e ainda hoje manifesto aquilo que aprendi lá.

Venceu recentemente o prémio Best Hotel Interior for Portugal com o projeto de interiores do Hotel Altis Avenida.
No Hotel Altis Avenida foi feita uma recuperação do edifício, mantendo a sua estrutura, e foi uma grande obra a nível de interiores. Foi um desafio muito interessante. Vou receber o prémio dia 3 de novembro, em Londres. Fiquei muito feliz. O Onyria Marinha Hotel também foi considerado o melhor cinco estrelas da Europa e o terceiro melhor do Mundo pelo TripAdvisor e são opiniões dadas pelos hóspedes dos hotéis. Fico muito lisonjeada, porque uma das características referenciadas é o ambiente agradável e a decoração harmoniosa.

Está a completar 30 anos de carreira. Sente que ainda tem alguma coisa a provar?
Comecei a trabalhar em ateliers de arquitetura quando ainda estava a fazer o curso. É muito interessante a pergunta, porque vivo de tal maneira a profissão como parte do meu eu que não consigo dissociar. A minha existência é o meu trabalho, a minha família é a minha vida e o meu trabalho… Tenho tido a sorte de, profissionalmente, ter sempre projetos e clientes que adoro, e a minha vida profissional tem­-me trazido felicidade. Fazendo parte o conjunto em que a profissão e a família quase não se conseguem dissociar, eu penso que não tenho de provar nada a ninguém como ser humano. Se a profissão está tão ligada com o meu próprio eu, acabo por não ter de provar nada profissionalmente. Prémios como este e outros, o convite da Topázio, a procura que os clientes desenvolvem em relação a mim, é tudo muito gratificante.

Como surgiu a arquitetura na sua vida?
Desde pequenina que sabia que queria ser arquiteta. Aos 16 anos, ainda considerei fazer pintura, mas as questões em três dimensões acabaram por me captar mais a atenção. A minha mãe diz­-me que, quando viajava com ela e o meu pai, eu queria meter o nariz em tudo: se eu fosse a um restaurante, tinha de ir ver a casa de banho; se fosse a um hotel, gostava de ver os quartos… andava sempre muito curiosa.

É conhecida pelo seu estilo eclético, mas gosta de incluir um elemento mais antigo nos seus trabalhos. Diria que é uma contadora de histórias na arquitetura?
Sou muito faladora, tenho uma grande alegria em viver, acho que sou uma pessoa abençoada pela vida que tenho e isso traduz­-se na maneira como comunico. A minha profissão também ajuda, há uma grande sinergia entre aquilo que eu sou e o que digo, e aquilo que produzo e projeto. Os meus projetos em residências contam sempre uma história. Gosto muito desta dualidade entre o clássico e o moderno. Tenho primeiro de perceber a personalidade do cliente e depois permito­-me contar a história por ele. O cliente reconhecer­-se no trabalho final é muito importante.

Não conhecemos a sua casa, mas se fechássemos os olhos e nos contasse a história dela, o que estaríamos a vislumbrar?
A minha casa conta muitas histórias e gostava de ter o dobro ou o triplo da área para que as coisas que eu tenho contassem as histórias como elas realmente são. Graças a Deus, viajei muito, vivi muitos anos no Oriente, deu para conhecer mundos e culturas longínquas. A minha casa é um somatório dessas viagens, dessa necessidade de pesquisa e procura, dessa paixão por muitas coisas. Tenho bronzes da China imperial, tenho louça imperial, tenho pintura de artistas chineses, mas depois também tenho uma coleção de esculturas de uma grande designer e escultora americana… À medida que eu viajo e cresço, acabo por ir consumindo, e essa junção da minha história é a minha casa. Se ela tivesse o triplo da área, era uma casa cheia de personalidade, com coisas muito bonitas, com um fio condutor que conta a história de nós os quatro [a arquiteta, o marido e as filhas]. A minha casa é o reflexo do meu ecletismo. Tenho coisas valiosas e depois tenho coisas sem qualquer valor comercial, mas que adoro.

Macau continua muito presente na sua vida. O que de melhor recorda desses tempos?
O meu marido não me deixa esquecer, ele é apaixonado por Macau, casei­-me lá e a minha filha mais velha nasceu lá também. O Zé [José de Mello Pinto] gosta tanto de Macau que praticamente temos lá ido todos os anos. O meu marido celebrou este ano o 50.º aniversário e fomos todos juntos celebrar a Macau, e o ano passado, por razões profissionais, também estivemos lá.

E a Rita como reage quando lhe diz: “Foi aqui que nasceste”?
Ela acha muita piada porque, no imaginário de uma miúda de 20 anos, o Oriente faz parte daquilo que é o maravilhoso. Deve ser uma história que ela adora contar aos amigos, porque é diferente de tudo. Ela, loirinha e de olhos azuis, diz com muita piada que é chinesa. E agora está a aprender mandarim. Ela acabou Finanças, está a terminar a tese e considera a possibilidade de ir estagiar durante um ano ou mais numa empresa em Macau.

Estaria preparada para vê­-la ir?
Aos 28 anos, decidi ir e foi uma rutura muito grande na minha vida. Na altura, as ligações eram muito mais difíceis, não havia Internet nem Skype e o primeiro ano foi muito difícil. Sei que se a Rita for, vai passar por um percurso difícil, mas vitorioso, porque o que não nos destrói, fortalece­-nos. Quando a Rita fez o Erasmus em Paris, a duas horas de Portugal, sofri horrores durante um ano, tinha umas saudades imensas só de pensar que ela estava tão longe. Se ela decidir ir, vai ser duro, principalmente para o pai, ela é muito “menina do papá”.

A Rita fez Finanças e a Mariana está a fazer Direito. Tem pena que nenhuma tenha querido seguir Arquitetura?
Sim, tenho pena, porque acho que elas têm imenso gosto e curiosidade nesta área. Mas, por outro lado, se calhar foi um alívio, assim voam sozinhas, porque são áreas que não domino.

Como descreveria a sua relação com elas?
Não querendo parecer pretensiosa, acho que é uma relação perfeita. As minhas filhas gostam imenso de estar connosco. Eu e o Zé temos um grupo maravilhoso de amigos e elas perguntam­-nos variadíssimas vezes: “Então, onde é que vamos?” Não é normal que miúdas de 20 anos queiram entrar no tipo de programas dos pais.

É importante para vocês que elas vejam os pais também como amigos?
Nunca pretendemos ser só amigos dos nossos filhos. Temos presente que pai e mãe têm de exercer essas funções, mas não quer dizer que não nos ponhamos no papel delas e percebamos o que é ser amigo e ser cúmplice.

E está preparada para conhecer os namorados delas?
Elas estão na idade de namorar. Já conhecemos. Elas já namoram há alguns anos com os mesmos meninos. Elas são muito conservadoras, e são dois meninos muito queridos. Não tenho nada a apontar.

Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel

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