Flor
“Com uma filha não há espaço para brincadeiras”

Famosos

A manequim revela à VIP como concilia a maternidade com a moda

Sáb, 31/03/2012 - 23:00

 Foi a modelo eleita para figurar na capa do primeiro número da Vogue nacional. Um convite que não hesitou em aceitar e que a fez lutar ainda mais num meio tão competitivo. Aos 27 anos, Flor Guerreiro já desfilou nas principais capitais da moda e é considerada uma das melhores manequins da sua geração. Assume-se uma mulher de desafios, mas foi apenas há 17 meses que aceitou aquele que considera ser o maior da sua vida: ser mãe. Noémie nasceu em novembro de 2010, fruto da sua relação de quatro anos com Yohann Peres. Uma experiência que mudou a sua visão da vida, tornando-a “mais adulta, real e séria”. A ponderação passou a ter um lugar de destaque na sua profissão, até porque agora “tudo é mais ponderado”. Em entrevista à VIP, Flor fala ainda sobre o difícil período por que passou quando esteve separada do pai da sua filha, mas sublinha que às vezes é melhor “dar um passo atrás para depois dar dois à frente”.

VIP – Como correu a última edição da ModaLisboa?
Flor Guerreiro – Nesta última edição da Moda Lisboa fiz apenas o desfile de Filipe Faísca, convidada pelo próprio e correu muito bem. É um prazer desfilar para ele.

É o rosto da nova campanha primavera/verão 2012 da marca Onara. O que achou do resultado final?
A campanha correu muito bem. Foi com uma cliente com a qual nunca tinha trabalhado e adorei.

Que outros projetos tem em mãos?
Quero continuar a apostar na minha carreira de manequim, numa vertente mais direct book. Viagens com trabalho já marcado. Algo mais comercial e não tanto editorial. Paralelamente estou a tirar formação na área de brand retail, que tem sido bastante exigente, mas recompensadora.

Nunca escondeu que a moda é a sua vida. Via-se a fazer outra coisa que não ligada à moda?
Tudo aquilo que faça vai ter sempre um fundo ligado à moda. Cresci com a moda e este meio trouxe-me muitas ferramentas que vão ser úteis em qualquer direção que decida tomar na minha vida. Gosto muito de design, produção, fotografia e tudo isso tem a ver com imagem, conceito, ideias e mentalidades. Tudo está interligado. Embora estejamos em crise, temos de tirar partido das coisas boas. Se o problema é a crise, em vez de pensarmos nela e focarmo-nos no que está mal, por que razão não nos focarmos no que temos de fazer para que fique bem? É nesse contexto que eu pretendo ir daqui para a frente. Esta intuição ligada à moda traz boas ferramentas para encarar projetos inovadores e aliciantes. Sou uma mulher de desafios. Temos de ir à luta.

Como têm corrido estes quase 13 anos de trabalho?
Têm sido muito produtivos e ricos. Já fiz muito e tudo o que fiz deu-me lições que estão ser extremamente úteis para a minha vida.

Já desfilou nas principais capitais da moda. Qual o desfile que mais a marcou?
Gostei muito de fazer o desfile da Armani, assim como gosto muito de fazer a Moda Lisboa ou o Portugal Fashion. Todos os desfiles têm um gostinho especial. Adoro desfilar, adoro fotografar, adoro trabalhar. Todos me marcam e têm sempre um lugar de destaque.

Foi capa do primeiro número da revista Vogue nacional. Como se sentiu face a tal convite?
Foi uma surpresa e uma compensação do que tinha construído até então. Foi um marco importante. Foi como se me dissessem: “Conseguiste alcançar algo. Continua a trabalhar!”

Considera-se uma inspiração para futuras manequins?
É possível que seja uma inspiração pelo trabalho desenvolvido e pela minha forma de desfilar. Quando me pedem conselhos adoro ensinar e transmitir aquilo que aprendi.

Qual o caminho certo para ter a melhor carreira no mundo da moda?
É ver isto de uma forma muito profissional. Isto é uma profissão. Dá-nos experiência de vida, é um facto, mas o real objetivo de tudo é ser um bom manequim, ter bons trabalhos e fazer muito dinheiro. Ponto!

Foi mãe há cerca de ano e meio. Como está a correr a experiência?
Nunca temos as expectativas reais do que é ser mãe. Só mesmo sendo é que se percebe o que implica. Está a ser a experiência da minha vida. Emocionalmente não há palavras. Estou a adorar educar e cuidar da minha filha. É bom transmitir tudo o que ela necessita para que possa vir a ser uma pessoa o mais completa possível. Dessa forma, poderei sentir que fiz um bom trabalho e que sou uma boa mãe.

Tem sido fácil a conciliação com a carreira?
O trabalho nunca mais volta a ser o que era. Antigamente havia uma outra liberdade. Não se podia fazer planos. Era uma montanha-russa. Era andar de um lado para o outro, era não saber onde ia estar à hora do jantar. Tudo mudava com um telefonema. Neste momento as coisas têm de ser muito mais ponderadas, com limites. Sinto que quero um outro conteúdo de vida, sem ser tão instável. Quero mais estabilidade, mais enquadramento. Quero estar cá e acompanhá-la. Por isso, as coisas mudaram. Isso não implica deixar de trabalhar como manequim, mas sim ter outra flexibilidade. O saber com o que contar tornou-se muito importante.

Considera que a sua filha deu um novo sentido à sua vida?
Sim. Fez-me ver a vida de uma perspetiva completamente diferente, muito mais adulta, séria e real. A moda é um trabalho à base da superficialidade. Com uma filha não há espaço para brincadeiras. O que tem de ser feito é para ser feito. É uma grande responsabilidade. É uma maneira de viver que é para sempre. Não é uma aventura. É um desafio constante todos os dias. Está a ser a experiência mais compensadora a todos os níveis.

Ser mãe era um sonho?
Sempre fui muito rebelde quando era mais nova. No entanto, sempre tive a noção de que para mim seria importante uma casa cheia. Cresci numa família grande e sabia que ser mãe seria algo especial. E por acaso sempre apontei para os 27. Acabei por tê-la aos 26. Veio a horas. Aquilo que sempre pensei é que não queria ser mãe muito tarde. Queria acompanhar a minha filha e ainda estar numa fase em que eu própria sentisse que iria acompanhá-la o máximo possível. Sempre adorei crianças e sempre senti que iria adorar ser mãe. É a maior delícia.

A separação de Yohann

Separou-se do Yohann durante uns meses, pouco tempo depois de terem sido pais. Como foi esse período?
Cada situação é uma situação. Nesta coisa das relações e do amor, todos os valores vão muito ao encontro da pessoa e do contexto em que está inserida. Devemos ser sempre fiéis a nós mesmos e fazer o que sentimos. Se não estamos bem, só temos de ficar bem. Se há alguma coisa a resolver, às vezes temos de dar um passo atrás. Isso é importante para depois poder dar dois à frente. É importante abdicar, lutar, não desistir e pensar sempre em construir.

Considera que tenha sido a decisão mais difícil da sua vida?
Quando há separações, principalmente com crianças, são sempre decisões difíceis. É algo muito pessoal. Neste momento estamos juntos e está tudo bem. Passámos uma fase menos boa, mas estamos a conseguir superar e estamos bem. O facto de ser figura pública também não ajuda. As coisas às vezes não são tão lineares assim, principalmente quando é uma situação que está em evolução, muito melindrosa e muito nossa. É difícil expor isso. Há coisas com as quais temos de lidar e que demoram o seu tempo e aí é mais complicado. Gerir a forma como as coisas são passadas cá para fora e controlar isso é o mais difícil.

Que ambições e sonhos tem ainda por realizar?
Sou uma pessoa de desafios. Gosto de ir mais longe e de aprender. Sinto que as minhas ambições vão passar sempre por alguma coisa ligada à moda.

Arrepende-se de algo que tenha ou não feito?
O “se” condiciona-nos a vida. Nunca vou pelos “ses”. Tento perceber o propósito quando algo acontece. Sinto que se acontece alguma coisa é para me ensinar ou para me trazer algo que era necessário para chegar a… É por aí que vou… Os arrependimentos e os erros ensinam-nos, fazem-nos abrir os olhos, desde que tenhamos a capacidade de olhar para trás e crescer com isso.

Tem algum receio?
Há sempre aquele aperto no peito de que alguma coisa possa acontecer à minha filha. Ela veio de dentro de mim e a minha função é protegê-la e fazer com que cresça de forma saudável. Saber que há tantas coisas que não podemos controlar faz-me querer ter dois braços gigantes e protegê-la contra tudo.

Como será a Flor daqui a dez anos?
É muito difícil ver-me daqui a dez anos. Embora queira um ritmo de vida mais estável, constante e até rotineiro, penso que na fase dos 40 anos gostava de ser ainda mais ponderada e encarar as coisas com uma paz diferente. Hoje ainda sou uma pessoa muito ansiosa, ambiciosa e vivo as coisas de uma forma muito pessoal. Gostaria de conseguir ter a minha paz em casa, na família, na rotina e meu trabalho.

E com certeza, com mais filhos…
Sim, com mais filhos, sem dúvida.

O que a deixa com um sorriso?
A minha filha… Mesmo que esteja cansada e que sinta que o dia correu mal é só vê-la que fico logo bem-disposta. Não há maneira de dar a volta. Tudo o que é negativo fica lá fora. A minha filha dá-me alento, consegue fazer com que sinta que a vida é linda e que vale a pena viver. Não que outras coisas não façam isso, mas a minha filha é especial. A família é uma grande razão de vida. A grande razão da nossa vida está no que conseguimos, na nossa herança. E que maior herança poderá haver do que os nossos filhos? Essa é a nossa maior riqueza.

Texto: Cátia Matos; Fotos: Bruno Peres; Produção: Zita Lopes; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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