Rui Neto
“Ainda não assimilei a idade que tenho”

Famosos

Aos 35 anos, o ator Rui Neto gostava de ter mais estabilidade, apesar de querer continuar a arriscar

Sex, 20/03/2015 - 0:00

Faz teatro, televisão, encenação e é insaciável na sede de conhecimento. Há muito que o rapaz tímido que estudava num colégio conservador cedeu lugar ao ator, mas deixou vestígios que se vão notando em Rui Neto, agora com 35 anos. Em cena com Amor e Informação, admite que se encontra algures entre o adulto que não quer crescer e o desejo de constituir família. Até lá, quer desenvolver personagens com a mesma intensidade que imprimiu a Nuno, em Sol de Inverno, e que lhe valeu o Prémio Áquila de Melhor Ator Secundário. No currículo, falta-lhe um vilão. 
 
VIP – Está em cena na peça Amor e Informação, no Teatro Aberto. A tecnologia veio alterar muito a forma como as pessoas se relacionam, como se amam? 
Rui Neto – Sim. A minha geração teve telemóvel no fim da adolescência, as relações não se viviam via SMS. Hoje em dia, o amor vive através de facetime e messenger. É bom porque há maior facilidade de comunicação, o que pode juntar pessoas que estão longe; mas há o risco das relações ficarem num plano virtual, de virtualizarmos as emoções. Eu gosto de tecnologia e sirvo-me dela, mas também é bom desligar e ter a companhia física. Tento fazer isso. Já a peça está a correr muito bem, as pessoas têm gostado. 
 
Tem mais projetos em agenda? 
Estou a encenar uma peça para o Teatro da Comuna, para junho, e outra para o final do ano, com a Escola de Mulheres. É engraçado porque normalmente, em televisão, as personagens que faço acabam por ter destaque. Depois há sempre um espaço de descanso e, durante essa fase, não consigo estar quieto. Portanto, acabo por criar projetos como encenador e é bom ter companhias que me procuram. Comecei há pouco tempo, com o monólogo intitulado Luto. Em 2012, senti a necessidade de começar a escrever.
 
O Luto é um texto seu, pessoal? 
Sim, é muito intimista. Pensei interpretá-lo, mas tive medo de não ter distanciamento suficiente para construir o espetáculo e, como era o meu primeiro texto, preferi escolher um ator e trabalhar com ele. Fala sobre o falecimento do meu avô, que era uma pessoa muito próxima, que sempre puxou muito pela minha criatividade.  
 
Tem investido no trabalho de encenação. Sente que é esse o seu caminho?
O facto de construir um espetáculo mexe muito comigo, tem a ver com a minha formação. Para além da formação de ator, sou licenciado em Publicidade e em Marketing. Depois, fiz o mestrado em Comunicação e Arte. Criar um espetáculo faz-me ir buscar valências a tudo isso e eu sou daqueles esquisitinhos que gosta de fazer tudo. Começo a imaginar o espetáculo desde muito cedo, a escrita vai condicionar a cena, depois todo o lado gráfico acaba por estar na minha cabeça e como não tenho estrutura para ter uma equipa de criativos, toco um pouco em tudo… mas também gosto muito de fazer televisão, acho um excelente exercício, pois é preciso fazer rápido e bem. Gosto desse trabalho de equipa, e gostava de conseguir uma continuidade. Achava que quando tivesse alguma maturidade já não teria de esperar, mas a verdade é que continuo a ter bastante instabilidade, a sensação de começar sempre do zero, e isso limita as opções de vida. 
 
É muito intensa a sua entrega às personagens que interpreta… 
Têm-me calhado papéis intensos em televisão. No Sol de Inverno, a proposta era fazer um casal homossexual que queria adotar uma criança, mas não queria um estereótipo. Para mim, foi muito sério. Mas adorava fazer de vilão, estou a construí-lo interiormente, embora ache que, quando olham para mim, veem alguém doce. Escolhem-me sempre para outro tipo de personagem. 
 
Quando percebeu que queria ser ator? 
Ainda tenho dúvidas! Eu era muito tímido antes de ir para a faculdade. Entrei em Informática e, nas praxes, convidaram-me para ir para o grupo de teatro porque me acharam divertido. Aquilo apresentou-se como um desafio, não foi amor. Pensava: “Como é que eles fazem isto, expor-se sem medos…” Foi isso que me fez voltar lá noutro dia com curiosidade e como estava num curso um bocadinho fechado a nível criativo, fui procurando mais formação… Disse aos meus pais que queria sair do curso de Informática, mas também não queria entrar no conservatório, tinha medo. Então, fui fazer castings para duas novelas. Só então achei que conseguia fazer o conservatório e, entretanto, já tinha a licenciatura em Publicidade e Marketing. 
 
Quando é que os seus pais perceberam que daí não ia sair um informático?
Acho que a dúvida surgiu no nono ano; estudava num colégio de freiras, em Évora, mais por uma questão de horários do que propriamente porque tivessem planeado para mim uma educação religiosa. No final do nono queria seguir artes, os meus pais tremeram porque no colégio não havia artes e acabei por continuar no colégio, mas eles perceberam. Acho que a formação era boa, mas fez de mim uma pessoa tímida, talvez tenha retardado um pouco essa abertura para o mundo. Mais tarde, foram apanhados de surpresa quando de repente fiquei numa novela. Mas perceberam que não tinha abandonado nada, mas já tinha trabalho e quis terminar o curso. Olho para trás e estou satisfeito. Acho que se tivesse um filho o punha lá, talvez até ao nono ano. 
 
Faz parte dos seus planos ter filhos?
Gostava, sim. Já quis mais, depois achei que não e agora estou no meio termo. Nós, atores, somos um bocadinho egocêntricos. Ter um filho é transferir esse centro para um outro ser e a profissão de ator arrisca-se nessa transferência. Às vezes questiono isso, já não vou ser o Rui, vou ser o pai de alguém, é uma grande responsabilidade. Ainda não assimilei a idade que tenho, acho que ainda sou novo para ser pai, apesar de não ser verdade. Se acontecesse era muito bom.  
 
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia, Cabelo e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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